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Memórias

MIRIAN DE ALBUQUERQUE AQUINO

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Os fragmentos de memória, apresentados nessa seção, tem como base o texto do memorial construído para o seu Relatório de Pós-Doutorado. As categorias (destacadas em negrito) foram criadas de forma natural com base nas narrativas, com o mínimo de interferência, como sugere a perspectiva autobiográfica para uma melhor compreensão da sua trajetória de vida.  

 

Formação como projeto de vida pessoal/profissional  

 

As reminiscências da minha história de vida profissional se articulam à formação intelectual iniciada no Ensino Médio (1966 a 1969), que cursei no Ginásio Juracy Magalhães (Itororó). É um tempo de construção de amizades. Posteriormente, matriculei-me em um curso científico no Colégio Central da Bahia (Salvador), mas não consegui terminá-lo, porque meu pai sofreu um grave acidente e não conseguiu mais sustentar minhas despesas da moradia do pensionato nessa capital.  

O momento decisivo do meu percurso de formação educacional ocorreu quando retornei a Vitória da Conquista, onde não havia possibilidade de concluir o Curso Científico, e optei pelo Curso de Magistério do Centro Integrado de Educação Luiz Navarro de Brito (CIENB) e, logo, descobri que me identificava mais com esse Curso. Nessa época, exatamente, comecei a perceber sinais de racismo nas relações entre brancos e negros. As colegas, que sentavam atrás de minha cadeira na sala de aula, durante as aplicações das provas, solicitavam ajuda, e a professora me humilhava pensando que eu estava passando a cola, sem jamais reconhecer que humilhar o outro fere a autoestima de quem vivencia a experiência dolorosa de ser tratado com desprezo. 

Ao terminar o Curso de Magistério, comecei a trabalhar como secretária, numa clínica médica, porque, mesmo sendo aprovada em concurso para o Ensino Médio, os gestores da educação não convocavam todos os candidatos aprovados, como registrava o Diário Oficial, mas preferiam atender aos conchavos políticos, exercer “o jeitinho brasileiro”. Na clínica médica onde eu trabalhava, o chefe me tratava de forma grosseira e desrespeitosa na frente dos pacientes, não concordava com ideia de que eu faria o vestibular e dizia que eu era uma funcionária incompetente.  Entendo que as palavras indecorosas e as atitudes humilhantes, repetidas, aparentemente despropositadas, insignificantes passam pelo desprestígio profissional [...]. Não suportando mais os desmandos, solicitei minha demissão. 

Em 1973 iniciei meu percurso de formação no Ensino Superior, com a aprovação no vestibular para o Curso de Graduação em Letras, na Faculdade de Formação de Professores (FFPVC), atualmente Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Paralelamente, nessa mesma Instituição, fiz seleção para ocupar uma vaga de Agente Administrativo no Departamento de Letras e, posteriormente, passei para a função de Técnico de Assuntos Educacionais. Mas as relações entre colegas não eram pacíficas. Uma delas não gostava de mim e acendia velas para me afastar do espaço onde trabalhávamos. Porém, minha convicção religiosa não se dobrava a esse ritual. Em 1986, optei pelo Curso de Especialização em Pesquisas Educacionais, na Universidade Federal da Paraíba, que me ajudou a inaugurar um processo de reflexão sobre as imagens que eu fazia de minha prática discursiva na docência e as que os sujeitos (alunos, professores, funcionários) delas faziam. 

Ao final do Curso, com três colegas, elaboramos e defendemos a monografia intitulada “A Pesquisa Científica na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia”, orientada pelo Prof. Dr. Roberto Richardson Jarry, cujos resultados mostraram a necessidade de inserirem mais docentes nas atividades de ensino-pesquisa. Contudo, a formação em pesquisa aprendida no Curso de Especialização não era reconhecida no espaço em que um Técnico de Assuntos Educacionais atuava.  

Em 1974, tornei-me professora-substituta no Ensino Fundamental da Escola Dirlene Mendonça de Vitória da Conquista. Cheia de incertezas, seguia o pensamento de Roger, Skinner e Piaget e acreditava na “eficiência” das teorias de ensino e aprendizagem aprendidas durante o Curso de Magistério. Licenciada em Letras Vernáculas (com habilitação em Inglês e Português), em 1979 iniciei a atividade docente no contexto da ditadura militar, em que a possibilidade de refletir criticamente sobre a prática discursiva na docência era remota. Fui convidada pela direção Educandário Juvêncio Terra, na cidade de Itororó-Ba, para assumir a disciplina “Educação Moral e Cívica”, cujos objetivos inculcavam na mente os valores sobre obediência, ordem, responsabilidade e patriotismo. 

No ano de 1991, fui aprovada em concurso público para ministrar a disciplina Português Instrumental para o Curso de Zootecnia, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Itapetinga/BA. Vivia cansada de viajar de ônibus, descer uma perigosa rota, conhecida como Ladeira do Maçal, para chegar a esse campus e retornar para casa porque precisava cumprir meus horários na função de Técnico de Assuntos Educacionais na UESB no campus de Vitória da Conquista. Em 1992, tomei a decisão de solicitar ao Departamento de Estudos Básicos e Instrumentais (DEBI) o meu afastamento para fazer Mestrado na Universidade Federal da Paraíba, visando aprofundar a temática de leitura e produção textual, uma vez que eu tinha formação em Letras Vernáculas. Porém, os avanços e os recuos nas disciplinas do Curso tentavam impregnar um descontentamento desse Mestrado para meu percurso de formação. 

Em 1994, defendi minha dissertação de Mestrado em Biblioteconomia, intitulada “Leitura Crítica e Produção Textual na Universidade: desvelar e (re) construir”, sem ultrapassar o prazo, pois a Profª Drª Walquíria Toledo de Araújo, minha orientadora,  muito me ajudou a superar as barreiras. Posteriormente, mergulhei numa literatura crítica que me ensinou a compreender que as práticas discursivas cristalizadas em cursos de pós-graduação precisam abrir novas clareiras para ajudar professores a repensar a formação de alunos da pós-graduação através de questionamentos e de reflexão crítica.  

Nesse mesmo ano, um novo olhar resultou no Exame de Qualificação no Mestrado em Educação, que há época fazia conjuntamente com o de Biblioteconomia, então comecei a elaborar a dissertação. Porém surgiu a oportunidade de me candidatar ao Processo Seletivo de Doutorado em Educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, vez que as ricas leituras já trabalhadas no Mestrado em Educação pareciam ser suficientes para eu avançar nos estudos de doutoramento. Nesse momento, minha orientadora, a Profª Drª Vera Esther Ireland, sabiamente, aconselhou-me a passar direto para o Doutorado argumentando que eu já havia defendido uma dissertação.  

Após o término do Mestrado, eu deveria retornar para reassumir a disciplina que ministrava no Curso de Zootecnia. Eu tinha consciência de que, dificilmente, conseguiria o afastamento para cursar o Doutorado, já que a liberação para o Mestrado não fora fácil. Diante das dificuldades já previstas, resolvi submeter-me a um Concurso para o Magistério Superior na UFPB e fui aprovada e nomeada para o Departamento de Biblioteconomia e Documentação (atualmente Departamento de Ciência da Informação), onde passei a ministrar a disciplina Fundamentos de Leitura, substituindo uma professora que se aposentou. No cotidiano docente, as relações com os pares eram tensas, pois colegas não viam com bons olhos o fato de eu não ter a formação em Biblioteconomia.  

Em razão disso, o corporativismo pressionava para que eu não ministrasse qualquer disciplina técnica. Houve um momento em que transitou um processo no Conselho Federal da área para barrar a possibilidade de que eu ministrasse qualquer uma dessas disciplinas. Mas novos conhecimentos e as leituras críticas contribuíam para que eu continuasse a refletir sobre as relações de poder institucionais. Ensejando novos conhecimentos para uma formação doutoral, “desertei” da temática leitura e produção textual, objeto da dissertação de Mestrado, porque os diálogos com o pensamento foucaultiano e pecheuxtiano propiciaram conhecimentos que me levaram a refletir sobre minha própria prática discursiva e a relação com o Outro.  

Em 1998 defendi a tese de Doutorado, intitulada “Prática Discursiva e a Construção do Sentido” sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Álvaro Sgadari Passeggi. As leituras e reflexões me permitiram analisar a prática discursiva de uma professora de Língua Portuguesa no Ensino Superior, entendida como prática social construída na relação com o Outro. Nas atividades docentes, comecei a perceber as relações preconceituosas, discriminatórias e racistas no cotidiano docente. 

 

Compreendendo o racismo na relação ensino-pesquisa 

 

A compreensão da existência do preconceito, da discriminação racial e do racismo no Ensino Superior passou a fazer parte dos meus estudos e pesquisas no momento em que recebi um convite do Ministério da Justiça (Brasília) para participar como uma das palestrantes no “Seminários Regionais Preparatórios Para Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata”, realizado em Salvador em 2001.  

Naquele momento, eu não tinha familiaridade com a discussão sobre a temática étnico-racial e senti vontade de declinar do convite. Contando os dias para dar uma resposta, resolvi trocar ideias com uma colega do Departamento da área de educação relatando minha insegurança diante de estudiosos que já trabalhavam com a temática étnico-racial. Então, a colega, consciente ou inconscientemente, disse-me que eu deveria aceitar o convite porque, só assim, “eu estaria entre os meus”, quer dizer, ela sugeriu que eu deveria me relacionar e conviver academicamente só com negros.  

A fala dessa colega provocou em mim um forte incômodo e acabei aceitando o convite do Ministério da Justiça. Animada, mergulhei na literatura específica e relembrei as diversas vezes em que eu já havia passado por situações de racismo, mas ainda não havia percebido. A partir dessa experiência, comecei a perceber que o racismo está enraizado nas relações que construímos nas escolas e nas universidades. Ele se manifesta de forma sutil ou claramente. [...] 

Outra manifestação de racismo ocorreu quando retornei do Doutorado para reassumir as atividades no meu Departamento. Eis um sobressalto! Uma colega me interrompeu e disse: “Este cabelo não combina com você”. Outra colega ironizou: “Este cabelo só combina com as europeias, ele não fica bem em você”. [...] A partir daquele momento, em que essas colegas estranharam meus cabelos, percebi mesmo a presença do racismo na Universidade. Naquela época, eu só conhecia professoras negras nos cursos de Economia, Educação e Biblioteconomia. E eu era uma delas. 

 

Início/Desenvolvimento dos estudos e pesquisas acadêmicas sobre a temática étnico-racial 

 

Em 2001 iniciei a investigação sobre a construção da imagem de afrodescendentes no discurso de inclusão étnico-racial nas práticas universitárias, cuja ideia foi se expandindo com a realização da pesquisa “Ciência e Memória: (e)vidências da (in)visibilidade de negros de matriz africana nas (i) ma(r) gens do discurso da produção de conhecimento da Universidade Federal da Paraíba”, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo desta pesquisa é de analisar a produção de conhecimento sobre negro em fontes de informação (monografias, dissertações, teses, relatórios e periódicos), focando o olhar na (in) visibilidade do povo negro, nas imagens que brancos fazem de negros e nas imagens que negros fazem de brancos, alargando ainda mais a pretensão de continuar investigando a temática étnico-racial articulada com as noções de cultura, identidade, informação e educação. 

Na pesquisa, intitulada “Informação e Diversidade Cultural: a imagem do afrodescendente no discurso de inclusão social”, articulei racismo, universidade, educação e informação [...]. 

Também a pesquisa intitulada “Ciência e Memória: (e) vidências da (in) visibilidade de negros de matriz africana nas ima(r)gens do discurso da produção de conhecimento da Universidade Federal da Paraíba” (2009/2011) e financiada pelo CNPq, teve como objetivo analisar a produção do conhecimento sobre negros, por meio das fontes de informação (monografias, dissertações, teses, relatórios e periódicos), atentando para a (in) visibilidade e as imagens construídas sobre a população negra. A outra pesquisa, intitulada “Processos de apropriação, organização, disseminação e democratização da informação no Movimento Negro da Paraíba” (2010/2011), financiada pelo CNPq, analisou como se dão os processos de apropriação, organização, disseminação e democratização da informação no Movimento Negro da Paraíba. 

Com o desenvolvimento da pesquisa “Processos de apropriação, organização, disseminação e democratização da informação no Movimento Negro da Paraíba” (2010) na área da Ciência da Informação, desenvolvi as seguintes questões: Como os integrantes do Movimento Negro da Paraíba se apropriam da informação? Como recebem a informação? Quais as informações que lhes são dadas? Quando essas informações chegam a eles? De onde provêm essas informações? Com que finalidade os integrantes recebem a informação? Como essa informação é organizada? Como se dá a disseminação da informação? Através de quais canais? A pesquisa “Conhecimento Prudente para vida decente”: uma análise da temática étnico-racial na produção de conhecimento em Ciência da Informação/Biblioteconomia/2012/2013” focou o olhar sobre os temas, as teorias e as metodologias com base nas fontes de informação (dissertações, teses, artigos e comunicações), utilizadas por professores, pesquisadores, orientadores e alunos da UFPB. 

[...] Conhecimento Prudente para uma Vida Decente”: uma análise da temática étnico-racial na produção de conhecimento em Ciência da Informação/Biblioteconomia” (2000-2012), foca o olhar sobre fontes de informação, visando identificar a configuração de professores, pesquisadores, orientadores e alunos, no período estabelecido, as fontes de informação (dissertações, teses, artigos e comunicações), os temas pesquisados, as abordagens teórico-metodológicas, as comunicações apresentadas em eventos e a temática étnico-racial na produção de conhecimento das áreas selecionadas. 

Ainda sobre a relação ensino-pesquisa, nesses últimos anos vinculada às atividades do NIPAM, fiz parte do projeto de pesquisa intitulado “Gênero e educação superior: políticas, narrativas e currículo”, em articulação com o NEPIERE e o NEABI, foi coordenado pela Profª Drª Maria Eulina Pessoa de Carvalho (Brasil) e pela Profª Drª Alejandra Montané (Espanha), com o objetivo de visibilizar a relevância social dos estudos de gênero e evidenciar a responsabilidade e o compromisso da Educação Superior com os problemas sociais; fortalecer a pesquisa socialmente comprometida e de impacto,; e potencializar as linhas de pesquisa que as duas equipes vêm desenvolvendo no Brasil e na Espanha. No campo da educação superior, para explorar, aprofundar e transcender a informação aportada pelos estudos estatísticos sobre a desigualdade e outras problemáticas de gênero, partindo das pesquisas no contexto universitário em direção à elaboração de propostas de intervenção e novas orientações de pesquisa e formação.  

Também as ações do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação Sobre a Mulher e Relações de Sexo e Gênero (NIPAM/UFPB), no qual atuo como pesquisadora instigou-me aprofundar discussões e reflexões sobre a temática étnico-racial articulada a temática de gênero na perspectiva da interseccionalidade, entendida como diversas características biológicas, sociais, culturais, tais como gênero, classe, raça/etnia, orientação sexual, deficiência física e/ou mental, idade, tipo do corpo, religião, nível de escolaridade etc”. 

 

Grupo de Estudos Formando Competências, Construindo Saberes e Formando Cientistas (GEINCOS) / Núcleo de Estudos e Pesquisas em Informação, Educação e Relações Étnico-raciais (NEPIERE) 

 

O sentimento de desconforto nas relações raciais serviu para a criação do “Grupo de Estudos Formando Competências, Construindo Saberes e Formando Cientistas” (GEINCOS), formado por graduandos (Biblioteconomia), mestrandos (Ciência da Informação) mestrandos e doutorandos (Educação). Com a expansão das atividades e dinâmicas do GEINCOS, em 2008 criou-se o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Informação, Educação e Relações Étnico-raciais (NEPIERE), com o objetivo de desenvolver novas pesquisas, promover eventos e consolidar discussões, debates e reflexões sobre as relações étnico-raciais entrelaçadas com os saberes interdisciplinares. 

Atualmente, os integrantes do NEPIERE, semanalmente, discutem temáticas sobre informação, memória, identidade, racismo, imagem e afrodescendência, desenvolvem pesquisas sobre a temática étnico-racial numa perspectiva interdisciplinar que resultam na produção de conhecimento  visando o acesso e a permanência de negros na instituição universitária, tendo como diversos (produtos  monografias, dissertações, teses, seminários, eventos e cursos).  

Os debates semanais realizados pelos participantes do NIPIERE/GEINCOS resultaram na organização de três eventos: 1) “I Seminário Responsabilidade Ética e Social das Universidades Públicas e a Educação da População Negra/2008, no qual foi discutida a situação da população negra na sociedade da informação como uma questão de responsabilidade ético-social das universidades públicas e seu compromisso com a sociedade que as sustentam no que diz respeito à procura de soluções para resolver os problemas étnico-raciais que afetam a população negra; 2) “II Seminário sobre a Responsabilidade Ético-Social das Universidades Públicas e a Educação da População Negra/2011”, no qual se discutiu a (in) visibilidade de negros na produção de conhecimento e; 3)  III Seminário “O Estado Brasileiro e a igualdade de direitos: desafios para além das ações afirmativas/2013. 

Conjuntamente com as atividades de pesquisa no NEPEIRE/GEINCOS venho atuando como docente assumindo as disciplinas “Metodologia da Pesquisa em Ciência da Informação” e “Informação e Cultura” no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação e o Seminário de Pesquisa em Estudos Culturais no Programa de Pós-graduação em Educação. Recentemente os orientandos desses dois programas vêm participando dessas novas atividades investigativas, resultando em um quadro de 8(oito) doutores, 14(quatorze) mestres e 01 (um) mestrando, 03 (três) bolsistas de iniciação científica cujas monografias, dissertações e teses relacionam  temas como informação, educação, cultura e etnia. 

As atividades desse Núcleo por meio dos estudos, pesquisas, interações e interlocuções com os alunos têm contribuído para muitas reflexões sobre percurso de formação e, conjuntamente, produzem conhecimentos sobre a temática étnico-racial em conexões com os saberes informacionais e educacionais. Também a parceria do NEPIERE sido com o Núcleo Interdisciplinar Pesquisa e Ação Sobre a Mulher e Relações de Sexo e Gênero (NIPAM) e o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI) tem sido importante para a discussão sobre as relações étnico-raciais no Curso de Formação para Profissionais da Educação no Estado da Paraíba, implantado no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil e da Rede de Formação para a Diversidade. 

 

Projetos avançados: Pós-doutorado, parceira com o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação Sobre a Mulher e Relações de Sexo e Gênero NIPAM/UFPB e Universidade de Barcelona (ES) 

 

[..] atuei como formadora no “Curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE)”, com o objetivo de capacitar professores da rede pública de Educação Básica para lidar com a diversidade nas salas de aula, enfrentar atitudes e comportamentos preconceituosos em relação a gênero, raça e às diversas orientações sexuais e oferecer aos profissionais conhecimentos acerca da promoção, respeito e valorização da diversidade étnico-racial, de orientação sexual e identidade de gênero. Colaborando para o enfrentamento da violência sexista, étnico-racial e homofóbica no âmbito das escolas do estado da Paraíba. 

Em 2006, esse Curso ofertado pelo NIPAM/UFPB, teve como resultado a parceria entre a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), o Ministério da Educação, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), o British Council e o Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/UERJ), a Rede de Educação para a Diversidade e o Sistema Universidade Aberta do Brasil. 

O NIPAM/UFPB propôs o Projeto “Gênero e Educação Superior: Política, Narrativas e Currículo, Edital da Capes em parceria com a Universidade de Barcelona (ES) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) o qual se encontra vinculado ao meu projeto de estágio pós-doutoral que buscou ampliar e aprofundar a compreensão da problemática dos preconceitos, discriminações e racismos contra mulheres negras na carreira acadêmica em instituições de ensino superior.  

Essa parceria alimentou meu desejo de experimentar de forma intensa a prática de pesquisa sobre as narrativas de vida das mulheres negras em suas construções identitárias no ensino superior conhecendo as experiências tanto no Brasil quanto na Espanha, em um momento em que se constata que a despeito da inclusão das mulheres na educação superior e na pós-graduação a proporção de mulheres docentes nas IES vai se reduzindo à medida que se eleva o nível hierárquico, especialmente nas pesquisas. 

Tal fenômeno poderia ser explicado, em parte, por ser recente o acesso massivo das mulheres à educação superior e à possibilidade de escolha de uma carreira acadêmica; por outro lado, sabe-se que, a par da inclusão, os processos de discriminação e reprodução das desigualdades vão se tornando mais sutis. Finalmente, esta pesquisa de pós-doutorado insere-se em um contexto em que o Governo Brasileiro vem tomando uma série de medidas visando ao enfrentamento de todas as formas de discriminação por meio de políticas públicas que apontam para a aceitação e o respeito à diversidade cultural, pois que não significa apenas reconhecer as diferenças, mas refletir sobre as relações e os direitos das mulheres negras adentrarem o ensino superior e a pesquisa e construírem sua identidade profissional.  

[...] A pesquisa do meu pós-doutorado na Universidade de Barcelona, intitulada “Narrativas de vida: a construção da identidade profissional de mulheres negras na carreira acadêmica em ensino superior” está “diretamente centrada nas mulheres negras que enfrentam as diferenças nas relações com seus pares e gestores, com os preconceitos, as discriminações e os racismos, obstaculizando movimentos de resistência com vistas ao empoderamento, à visibilidade e à construção identitária no cotidiano docente. 

Essa parceria alimenta meu desejo de experimentar, de forma intensa, a prática de pesquisa sobre as narrativas de mulheres negras em suas construções identitárias no ensino superior e conhecer as experiências tanto no Brasil quanto na Espanha, num momento em que se constata que, a despeito da inclusão das mulheres na educação superior e na pós-graduação, a proporção de mulheres docentes nas IES vai se reduzindo à medida que se eleva o nível hierárquico, especialmente nas pesquisas. Esse fenômeno poderia ser explicado, em parte, por ser recente o acesso massivo das mulheres à educação superior e a possibilidade de escolher uma carreira acadêmica; por outro lado, sabe-se que, a par da inclusão, os processos de discriminação e de reprodução das desigualdades vão se tornando mais sutis. 

O objeto de estudo é a análise da relação das mulheres negras com o ensino superior em torno da construção de sua identidade profissional, tendo como pressupostos teórico-práticos: a função preponderante da docência, de forma crítica e em consonância com a perspectiva da Lei 10.639/2003 da promoção da igualdade racial como uma construção social em uma sociedade multicultural eivada de preconceitos, discriminações e racismos que se cruzam com a globalização, as tecnologias intelectuais, a informação e o conhecimento; a função preponderante da/o educador e da escola na educação para a diversidade sexual e de gênero, de forma crítica e em consonância com a perspectiva da justiça de gênero e da democracia como uma construção que atravessa a carreira escolar da educação infantil à educação superior, a partir da experiência em um mundo cruzado por múltiplas globalizações, especialmente as culturais.  

O objetivo maior desta pesquisa do estágio pós-doutoral é o de atualização teórica e de revisão crítica acerca das temáticas: mulheres negras, educação superior, identidades profissionais e carreiras acadêmicas com a finalidade de aprofundar estudos sobre o relacionamento entre as teorias sobre raça e etnia, as relações de gênero, as identidades, no âmbito dos Estudos Culturais; e, ao mesmo tempo, estudar e experimentar as tecnologias que permitam reduzir as distâncias dos processos educacionais. Também esta pesquisa articula referenciais teórico-metodológicos da Educação e Ciência da Informação. Nesse sentido, estar na Universidade de Barcelona, como pesquisadora, tornou-se para mim uma oportunidade ímpar até porque fiz meu doutoramento numa universidade do Nordeste e já esgotei todo o potencial de investigação sobre os temas de interesse que esse contexto oferece. 

 

Observações: A professora Mirian, concluiu seu estágio pós-doutoral em 2014. Como fruto dessa pesquisa ela publicou o artigo “A construção da identidade profissional de mulheres negras na carreira acadêmica de ensino superior” pela Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) (ABPN) em 2015. Em janeiro de 2016 se aposentou, regressando para Vitória da Conquista, Bahia, onde reside a maior parte de sua família, e vive lá até hoje.  

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