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Memorial de Pesquisa 

LEYDE KLEBIA RODRIGUES DA SILVA 

MEMORIAL

 

1 Apresentação 

 

Essa pesquisa tem como objeto as trajetórias de vida de três pesquisadoras negras que atuam e/ou atuaram na pesquisa, ensino e extensão em Biblioteconomia e Ciência da Informação: Mirian de Albuquerque Aquino, Maria Aparecida Moura e Joselina da Silva. Partimos do pressuposto que essas pesquisadoras construíram e ainda constroem redes de intelectuais negras e negros e não negras e não negros. Elas integram saberes e formam profissionais/cientistas/pessoas sensíveis e atuantes à problemáticas que afetam a sociedade e são fatores geradores de discriminação e exclusão social, como racismo, machismo, sexismo e LGBTfobia. 

A trajetória desta pesquisa não é recente, ao contrário, faz parte de um conjunto de inquietações que foram crescendo e se acumulando ao longo dos anos de pesquisa, convívio no grupo de estudos, o Geincos (irei me debruçar mais a frente sobre essa história). Afinal, não posso falar sobre trajetórias de vida, e não me justificar, ou melhor não me apresentar. Pois, entrei nesse curso de doutorado no ano de 2015, com outras pretensões. Para ser mais específica, ela tinha o seguinte tema: “Resignificação dos conceitos de apropriação e democratização em ciência da informação a partir do olhar da sociologia da informação”. Entretanto, foram muitos os obstaculos e dilemas que me fizeram caminhar para a mudança do tema, começarei com um breve memorial sobre mim, na esperança que ao lerem compreendam essa tese como eu a escrevi, um trabalho de inquietações acadêmicas e cura pessoal que construiu e vem construindo a forma como universidade, a pesquisa e o ensino me transformaram e tantas outras pessoas com histórias como a minha. 

A proposta deste memorial é descrever minha trajetória profissional e acadêmica, enfatizando os processos e produtos científico-tecnológicos, bem como as expectativas e contribuições para a ciência, sobretudo para o campo da Ciência da Informação. 

Meu percurso acadêmico e profissional esteve orientado desde seu princípio para a prática da pesquisa científica, envolvendo os campos da Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivologia, Tecnologia da Informação, Processos de Disseminação da Informação, Memória, Acesso, Uso e Preservação da Informação e Métodos e Técnicas de Pesquisa. Minha trajetória pelos grupos de pesquisa começa com estudos étnico-raciais sobre a presença de temas afrodescendentes na pesquisa científica, se amplia buscando entender o papel da preservação da memória e da representação da informação para a construção de identidades, e atualmente explora um aspecto mais subjetivo das relações entre intersujeitos, livros e desejos, que busca, através da bibliologia, trazer as investigações tradicionais da CI para o cotidiano da sociedade. 

Ao longo da minha caminhada, tive a oportunidade fazer parte de algumas importantes instituições do país no âmbito da Ciência da Informação, assim como de órgãos públicos ou privados de ensino e/ou pesquisa, destacando-se, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a Aliança Francesa João Pessoa (AFJP), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba (TJPB) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). 

Nesse sentido, apresentarei esse memorial da seguinte maneira: em um primeiro momento farei uma exposição dos meus primeiros anos de vida acadêmica.  Em seguida, detalharei minha produção acadêmica e atuação profissional nos últimos cinco anos e terminarei com minhas perspectivas de trabalho, possíveis projetos acadêmicos e contribuições para o desenvolvimento institucional. 

 

2 Os primeiros anos de vida acadêmica: dos passos iniciais às experiências de ensino, pesquisa e extensão.  

 

Ingressei na universidade em 2006, mas precisamente agosto. Falar o mês é importante para contextualizar um período singular. Normalmente o período escolar nas universidades brasileiras se inicia em fevereiro/março do ano corrente. Contudo, a Universidade Federal da Paraíba acabara de passar por período de sucessivas greves que atrasaram seu calendário escolar. 

Minha ansiedade para adentrar no universo acadêmico era tamanha, que eu contava os dias para que aulas pudessem começar. Eu nasci no interior do estado da Paraíba, em uma cidade do sertão chamada Patos. E as condições socioeconômicas da minha família praticamente não permitiam que eu sonhasse muito. Esse foi sempre o meu “problema”. Não acreditar na vida predefinida que a sociedade já tinha me traçado antes mesmo de eu nascer. Tive uma formação, desde o inicio da minha vida escolar em instituições públicas. Nesse sentido, sempre valorizei o poder dessas instituições como mobilizadoras e transformadoras da realidade social. E foi com esse anseio que ingressei na universidade. 

A escolha pelo curso de biblioteconomia se deu basicamente por pesquisa. Eu queria aprender como levar informação para todos. Simples, mas verdade. Como a maioria dos estudantes que ingressam o curso eu não tinha a menor noção do que ele travava ou poderia oferecer em termos de conhecimentos. Mesmo sendo uma profissão secular, a biblioteconomia ainda não era/é vista como um curso de “Alto prestigio” (Ex. Medicina e Direito). Não é o momento aqui, mas essa questão carece de reflexão mais aprofundada para compreender melhor o processo de democratização e acesso ao ensino superior no Brasil. 

Voltando ao período da Graduação em Biblioteconomia, esse foi marcado pela minha real inserção no mundo da universidade e todas as questões que ela implica. 

O primeiro ano da graduação foi de extrema importância para entender como a esfera acadêmica se organizava. Como eu era do interior do estado e a universidade funcionava na capital, acabei concorrendo e conquistando uma vaga na Residência Universitária. Ao entrar no Programa de Residência Universitária fui assegurada além da moradia e alimentação, com uma série de benefícios (cursos de extensão, mobilização estudantil e etc.), que o residente poderia, caso desejasse, vivenciar. Sobretudo, pelo fato de morar dentro da própria instituição pude conhecê-la para além da estrutura da sala de aula. 

Em 2007, no segundo período de curso, prestei seleção e conquistei uma vaga como bolsista PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) no projeto de pesquisa “Informação para Educação: construindo dispositivos de inclusão a partir do uso de objetos multimídia na sociedade da aprendizagem” coordenado pela Professora Doutora Mirian de Albuquerque Aquino, docente do Departamento de Ciência da Informação (DCI). A pesquisa tinha por objetivo analisar os objetos multimídia dos cursos da UFPB e como eles estavam sendo empregados no processo de ensino-aprendizagem da comunidade universitária, que vivia a emergência do uso e da aplicação das TICs (Tecnologias da Informação e da Comunicação) que ainda não estavam sendo utilizados nas instituições de ensino superior.  

Entrar nesse projeto reconfigurou todas as minhas aspirações acadêmico-profissionais, pois, ao ingressar no universo da pesquisa científica, me deparei com um universo de possibilidades que antes eram impensáveis: pesquisa e a docência. 

Ao me inserir em um projeto de pesquisa, também comecei a fazer para do Grupo de Pesquisa da minha orientadora, o Grupo de Pesquisa Integrando Competências, Construindo Saberes, Formando Cientistas (GEINCOS) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Informação, Educação e Relações Etnicorraciais (NEPIERE), aos quais sou vinculada até hoje. Nas relações com os membros, alunos de graduação, mestrandos, doutorandos e pesquisadores, me familiarizei com o saber-fazer acadêmico, participando de discussões com a finalidade de refletir sobre problemáticas emergentes na atual sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem e, sobretudo, amadurecer a compreensão da ciência. Os estudos e pesquisas desenvolvidos interdisciplinarmente pelos membros do NEPIERE/GEINCOS contribuíram fortemente para a escolha do tema e dos objetos de estudo que deram origem aos trabalhos que desenvolvi na Conclusão do Curso de Biblioteconomia, no Mestrado em Ciência da Informação e no Projeto pelo qual fui aprovada na seleção de Doutorado no IBICT, em 2015. 

 

Ainda em 2007, vivi minha primeira imersão universitária no campo da mobilização estudantil, digo no contexto universitário, pois desde a escola básica sempre me envolvi e preocupei com as questões que permeiam o campo dos direitos cidadãos, política participativa e democracia. Ao ingressar no Centro Acadêmico de Biblioteconomia (CAB), estive ligada diretamente ao Diretório Central de Estudantes (DCE) e juntos lutamos por melhorias para os estudantes, para universidade e toda comunidade acadêmica, em um contexto onde os projetos do Reuni começavam a ser desenvolvidos. Sendo assim, fomos privilegiados ao participar da aplicação de um projeto que ampliou o acesso e a permanência na educação superior. 

A experiência no movimento estudantil universitário foi de grande relevância p ara o meu amadurecimento pessoal e profissional. Acredito que, em uma sociedade que se intitula democrática, as relações que se desenvolvem sobretudo em suas instituições de ensino, para serem educativas, devem ser também democráticas. O exercício da democracia está intimamente ligado à real participação da comunidade na tomada de decisão, ou seja, a democracia não pode existir sem participação popular. Entendo que a participação dos estudantes (e toda comunidade) como sujeitos ativos no processo de ensino e aprendizagem contribui para a formação global de cidadãos mais preparados para a construção de uma sociedade melhor. 

O ano seguinte foi significativo para demarcar o campo de atuação do GEINCOS. Nesse momento, acabávamos de concluir o projeto “Informação para Educação” e consideramos que os recursos multimídia em si não bastavam para auxiliar o projeto de ensino–aprendizagem, o uso desses objetos precisavam ser associados às políticas de aprimoramento e de utilização destes recursos a fim de que eles pudessem atuar como agentes facilitadores na educação. Após a finalização deste, as pesquisas desenvolvidas pelo grupo buscaram um tronco comum, além da transversalidade entre Ciência da Informação e Educação, visto que a coordenadora do grupo atuava nos dois programas. A questão étnico-racial se tornou, então, objeto de estudo central do grupo, com foco em duas linhas pesquisa: “Afrodescendência e Educação”, com o objetivo de estudar os processos de exclusão/inclusão social dos afrodescendentes através das práticas educativas, formais e informais, e mais diretamente ligadas a Ciência da Informação, a Linha de “Memória, organização, acesso e uso da informação” que tem por objetivos estudar a preservação da memória, representação de informação, usos e impactos da informação, de um ponto de vista cultural a partir das questões de inclusão e exclusão para formação de identidades culturais na consolidação da cidadania.  

A segunda linha é por onde meus estudos e pesquisas, desde 2008, seguem até hoje. Investigamos questões teóricas, conceituais, reflexivas e metodológicas voltadas à produção, apropriação, democratização, representação, usos e impactos da informação, e à proteção das memórias, do patrimônio cultural e identitário, associadas ou não às tecnologias de suporte.  

Assim, em 2008, começo a fazer parte do projeto de pesquisa “Memória da ciência: (In) visibilidade de negros(as) na produção de conhecimento da Universidade Federal da Paraíba”. O estudo fez um levantamento da memória da ciência da Universidade Federal da Paraíba, focando os anais dos Encontros de Iniciação Científica – ENIC/PIBIC no período de 1998 à 2008 com o objetivo específico de identificar a produção de conhecimento sobre o(a) negro(a) de pesquisadores(as) dessa Instituição. A primeira fase deste estudo foi concluída em 2009, que mostrou as dissonâncias na produção de conhecimento da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, especificamente nos trabalhos apresentados nos Encontros de Iniciação Científica – ENIC, no período de 1998 a 2008, nas três grandes áreas do conhecimento: Ciências Exatas da Natureza (CEN), Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA) e Ciências da Vida (CV), onde foi possível constatar que dos 8.623 artigos publicados nas mais diversas áreas do conhecimento apenas 73 foram classificados como “artigos sobre o(a) negro(a)”, dentre os quais, 72 são das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA), representando 0,85% da produção de conhecimento.

  

Ainda em 2008, além das leituras advindas das discussões no grupo de pesquisa, que se reunia semanalmente, promovendo debates e reflexões com grupos que também trabalhavam com a temática, participei do seminário “A responsabilidade ética e social da Universidade publicas e a educação da população negra” que ocorreu de 16 a 18 de Julho de 2008, no Centro de Tecnologia da UFPB, organizado pelo GEINCOS; da “Roda de Dialogo: Mulher negra - racismo e educação”, realizada no Auditório do CCEN no dia 23 de Julho de 2008; do ciclo de palestras ministrado pela americana Ann Petterson Bishop, com o tema: “What is Community Informatics?” promovido pelo Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação - PPGCI, da UFPB no período de 07, 11 e 12 de Agosto de 2008; do minicurso, ministrado pela Profª. Drª. Marília Campos - PPGE com o tema: Formação de professores e história da África, promovidos pelo GEINCOS, no dia 10 de outubro de 2008; do minicurso, ministrado pelo Prof. Dr. Antônio Novaes - PPGE, como o tema: As políticas de cotas na UFPB, e desigualdade do negro dentro da sociedade atual, organizado pelo GEINCOS, no dia 24 de outubro de 2008; do XII Encontro Estadual do Programa Nacional de Incentivo a Leitura PROLER/PB, com o tema “Leitura e Literatura Afro-indígena” realizado no período de 06 e 07 de novembro de 2008 com a colaboração da Casa de José Américo. Participei do XVI Encontro de Iniciação Científica, onde apresentei o trabalho fruto do primeiro projeto de pesquisa que participei, intitulado “O uso de objetos multimídia na informação para educação na sociedade da aprendizagem” em João Pessoa, no Campus da UFPB; e ainda do I Fórum Internacional de Arquivologia promovido pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), que ocorreu no período de 25 a 27 de novembro de 2008 em João Pessoa - Paraíba, onde participei do Workshop políticas de preservação de documentos. 

Em 2009, como já dito anteriormente, concluímos a primeira fase da pesquisa “Memória da Ciência”. Os resultados dessa pesquisa fizeram-me entender que a universidade deve ser formadora de novos perfis profissionais, capacitados para trabalhar com as mais diversas áreas do saber. Nesse sentido, quando  pesquisadores(as), profissionais da informação, bibliotecários(as), arquivistas, museólogos(as), antropólogos(as), historiadores(as), jornalistas, sociólogos(as), psicólogos(as), encampam a luta pela democratização da memória social como um dos imperativos prioritários para se ampliar a justiça social, a memória pode servir como mecanismo de inclusão dos que vivem à margem da sociedade, por não serem reconhecidos na (ou conhecedores da) sua própria história. Caberia, assim, aos profissionais que trabalham com a recuperação da informação preservar essa memória e disseminá-la a fim de serem agentes transformadores da realidade excludente. 

Na segunda fase da pesquisa, escolhemos olhar para as “Imagens produzidas sobre os(as) negros(as) na produção do conhecimento armazenada na memória da ciência da Universidade Federal da Paraíba”. Nessa etapa, buscamos expandir os dados da pesquisa abarcando os programas de pós – graduação para atingir os diversos tipos de produção cientifica armazenada na memória da ciência da UFPB. 

Nesse ano, participei da comissão organizadora do “I Encontro Paraibano de Gênero e Diversidade na Escola, II Seminário Paraibano de Prevenção à Violência na Escola, I Colóquio Paraibano de Estudos de Gênero” promovido pelo Centro de Educação/UFPB, no período de 03 a 06 de março na Estação Ciência, Tecnologia e Artes de João Pessoa; do “II Seminário de História e Cultura Histórica: 80 anos dos Annales, contribuições historiográficas” que foi promovido pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFPB, que ocorreu no período de 20 a 23 de abril de 2009, no Auditório da Reitoria; e do seminário/curso “Ciência em ação: possibilidades teórico-metodológicas e interdisciplinares” nos dias 16, 23 e 30 de abril e 07, 21 e 28 de maio de 2009 no Centro de Ciências Sociais Aplicadas e no Centro de Educação da UFPB. 

Também participei do minicurso “Identidade e Pós Modernidade”, ministrado pelas professoras Drª. Alba Cleide Calado Wanderley, Msª Maria Daluz Olegário e Lebiam Tamar Silva Bezerra, nos dias 11, 25 de agosto e 01 de setembro de 2009, no Encontro de Pesquisa em Educação do Norte e Nordeste – EPENN; da I conferência livre “Livro Leitura e Bibliotecas” em João Pessoa, realizada no dia 10 de outubro de 2009, no Auditório da Central de Aulas da Universidade Federal da Paraíba; do XVII Encontro de Iniciação Científica realizado no período de 21 a 23 de outubro de 2009 com a apresentação do trabalho “A produção de conhecimento sobre o(a) negro(a) na memória da ciência da Universidade Federal da Paraíba”, realizado no Centro de Ciências Jurídicas da UFPB; do X Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - ENANCIB, no período de 25 a 28 de Outubro de 2009, na UFPB, na qualidade de apoio à categoria de infraestrutura e do Seminário “Políticas de Cotas da UFPB? Um debate necessário”, a fim de estimular o debate local acerca da inclusão social, que ocorreu nos dias 25 e 26 de Novembro de 2009 na UFPB; da oficina Literatura Infanto-Juvenil e relações ético-raciais: tecendo caminhos para a implantação das leis federais 10.639/03 e 11.645/08, ministrada Profª. Msª. Anória Oliveira/UNEB; do minicurso “A visualidade do negro através das novas linguagens: pintura, propaganda, charge, fotografia e grafite proponentes”, ministrado pela Profª. Drª. Maria Lindaci Gomes de Souza, ambos no II Seminário Nacional de Estudos de História e Cultura Afro-Brasileiras, promovido pela UEPB Campus I CEDUC (Centro de Educação) Campina Grande-PB no período de 17 a 20 de novembro de 2009, onde apresentamos o trabalho “Memória da ciência: a (in) visibilidade de africanos e afrodescendentes na produção do conhecimento da Universidade Federal da Paraíba” que foi publicado nos Anais referido evento. 

Em 2010, fiz uma seleção e fui aprovada como estagiária de biblioteconomia no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba – TJPB. Até esse momento da graduação eu ainda não tinha vivenciado efetivamente a prática bibliotecária. Sendo assim, considerei pertinente, visto que estava no último ano da graduação e o estágio objetivava desenvolver atividades de atendimento, organização, tratamento, análise e recuperação de informações em diversos níveis e suportes físicos, por meios manuais e automatizados, com vistas ao atendimento das necessidades informacionais de área específica. Essa experiência foi muito rica em termos de conhecimento, pois, pude trabalhar com profissionais que já tinham uma jornada longa no campo da biblioteconomia e que me transmitiram muitas informações essências para o meu desenvolvimento profissional e de ética no trabalho.  

Ainda em ligação com NEPIERE/GEINCOS concluímos o projeto “Memória da Ciência”. Considerando a (in) visibilidade de negros (as) na produção de conhecimento, foi possível identificar imagens de exclusão de temas e contextos específicos, percebendo-se a urgência destas discussões nas pesquisas, tendo professores (as) e pesquisadores (as) papéis fundamentais neste contexto, que estariam contribuindo para o esfacelamento de estereótipos constitutivos da negação da cultura africana, atribuindo-lhe um panorama de marginalidade. 

Diante deste cenário, também sob a coordenação da Professora Mirian, foi aprovado o Projeto Universal financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) “Processos de apropriação, organização, disseminação e democratização, acesso e uso da informação: resgate da memória do movimento negro da Paraíba”, do qual participei como PIBIC-AF, primeiro edital de iniciação científica voltado a discentes que tinham critérios para o Programa de Iniciação Científica de Ações Afirmativas. O projeto tinha por objetivo analisar os processos de apropriação, organização, disseminação e democratização da informação étnico-racial, visando o resgate da memória do Movimento Negro da Paraíba. Participei do projeto, que permaneceu em vigência até 2012, como bolsista IC-AF até minha colação de grau em Biblioteconomia, em janeiro de 2011, e, posteriormente, como voluntária Graduada. 

Ainda em 2010, participei dos seguintes cursos e eventos: Curso de curta duração sobre Mulheres afro-americanas: uma abordagem feminista, organizado pela Universidade Estadual da Paraíba, UEPB, Campina Grande; Curso de curta duração em Introdução à Historiografia africana e à imprensa, organizado pela Universidade Federal da Paraíba, UFPB, João Pessoa; V Semana de Humanidades: interface dos saberes, formação docente e diversidade cultural, apresentando o trabalho “A produção de conhecimento sobre o(a) negro(a) na memória da ciência da Universidade Federal da Paraíba”; do II Seminário Ciência em Ação: a pesquisa qualitativa: origem, desenvolvimento e algumas tendências metodológicas (também como organizadora); Seminário Regional de Combate às Desigualdades Raciais entre Brancos e Negros: pela reparação e contra o genocídio da população negra; I Simpósio Brasileiro de Ética da Informação, organizado pelo Programa de Ciência da Informação da UFPB e do XVII Encontro de Iniciação Científica na UFPB, em João Pessoa apresentando o trabalho “A produção de conhecimento sobre o(a) negro(a) na memória da ciência da Universidade Federal da Paraíba”, também publicado nos anais do evento.  

Também nesse ano, foi aprovado e publicado em periódico científico nacional, em colaboração com outros membros do grupo de pesquisa do projeto, já concluído, “Memória da Ciência”, o artigo “Dissonâncias e assimetrias na produção de conhecimento na UFPB: (in)visibilidade de temas sobre negros (as)” na Revista Biblionline. 

Em dezembro, concluí minha graduação em Biblioteconomia, apresentando como Trabalho de Conclusão de Curso o estudo “FONTES DE INFORMAÇÃO NA WEB: uso e apropriação da informação como possibilidade de disseminação e memória do Movimento Negro no Estado da Paraíba” orientado pela Profª. Drª. Mirian de Albuquerque Aquino. Esse estudo teve por objetivo investigar como o Movimento Negro do Estado da Paraíba se apropria das fontes de informação na web e as usa, na perspectiva de disseminação e memória dessa organização. Esse trabalho surgiu de inquietações, desenvolvidas nas experiências que tive nos três momentos de atuação como bolsista de iniciação científica. Ao final desse estudo foi possível apreender que o profissional da informação tem o papel de explorar as diversas fontes de informação existentes, ou seja, juntar os fragmentos da história de um determinado grupo e reconstruí-la independentemente do seu formato e, assim, reconstituir também a trajetória desse grupo. As instituições são legitimadoras das tradições de uma sociedade, por isso as bibliotecas e as demais instituições informacionais, como arquivos e museus, podem contribuir para a democratização da informação e para dar voz às culturas marginais. 

 

3 A trajetória científico-profissional nos últimos cinco anos 

 

O término da graduação foi uma passagem bastante significativa. Pois, além de concluir o TCC recebendo a indicação da banca para publicação imediata e a sugestão de dar continuidade aos meus estudos no mestrado, fui eleita Oradora da Turma dos Formandos de Biblioteconomia de 2010.2. 

A colação de grau aconteceu em janeiro de 2011, e logo em seguida, continuei como pesquisadora graduada voluntária nos Projetos de Pesquisa com que já estava envolvida enquanto Bolsista PIBIC.  

Sendo assim o ano de 2011, foi um período de dedicação e preparação para o Mestrado (meta que eu já tinha estabelecido antes mesmo de concluir a graduação), aprofundamento no campo da pesquisa cientifica (pois, como Graduada passei a assessorar os/as bolsistas PIBIC vinculados ao NEPIERE/GEINCOS) e imersão no mercado de trabalho (a fim de buscar novas experiências). 

No campo profissional, fui contratada por tempo determinado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, ligado ao Ministério do Meio ambiente para desenvolver uma biblioteca digital que organizasse o acervo de periódicos que o instituto utilizava para suas pesquisas. Nesse período trabalhei diretamente com uma equipe de informática qualificada a fim de aplicar o software livre de bibliotecas “BibLivre” às necessidades da instituição. O trabalho teve bons resultados e o sistema é utilizado pela instituição até os dias atuais, sendo alimentado regularmente. 

Devido à minha experiência com pesquisa, fui convidada a participar como Bolsista de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI) no projeto “UCAPEDIA: concepção, desenvolvimento e utilização crítica e significativa de objetos digitais de aprendizagem apoiados por princípios do design instrucional e da arquitetura da informação” financiado pelo CNPq e, nele permaneci até o ingresso no mestrado em março de 2012. O projeto foi coordenado pelo Dr. Claudio Fernando André e tinha parcerias com a Universidade Federal da Paraíba, a Universidade Federal de Sergipe, a UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. A pesquisa tinha como objetivo geral contribuir para o debate sobre as formas de planejar, projetar, desenvolver, implementar e avaliar objetos digitais de aprendizagem para o Programa Um Computador por Aluno (PROUCA), tomando como referência fundamentos no campo do Design Instrucional e da Arquitetura da Informação. Na pesquisa eu coordenava dois bolsistas de graduação, planejava as coletas de dados e produzia material para divulgação científica do projeto. 

Nesse ano, as publicações mais significativas que foram: “Retirando a pele da memória: a produção de conhecimento sobre negros(as) (in)visibilizada em anais de iniciação científica na UFPB” publicado na Revista Biblionline; “Fontes de informação na web: uso e Apropriação da informação como Possibilidade de disseminação e Memória do movimento negro no Estado da Paraíba” apresentado e publicado nos Anais do II Seminário A Responsabilidade Ético-Social das Universidades Públicas e a Educação da População Negra, em 2011, em João Pessoa, organizado pelo NEPIERE/GEINCOS. Fiz parte como colaboradora, tanto da Comissão Organizadora quanto da produção do livro “Responsabilidade ético-social das universidades públicas e a educação da população negra” publicado pela Editora Universitária UFPB. 

No final de 2011 prestei seleção para o Mestrado em Ciência da Informação da UFPB e fui aprovada em primeiro lugar, com o seguinte anteprojeto “Disseminação, Democratização e Preservação da Informação Étnico-racial na perspectiva da Organização de Mulheres Negras da Paraíba – BAMIDELÊ” para a linha de pesquisa “Memória, Organização, Acesso e Uso da Informação”. Durante o mestrado também fui orientada pela Profª. Drª. Mirian de Albuquerque e recebi a coorientação do Prof. Dr. Edvaldo Carvalho Alves.  

Fui bolsista durante todo o período de mestrado, na modalidade Reuni. Essa bolsa exigia que o discente realizasse estágio docência durante o período em que este recebesse a bolsa. Sendo assim, realizei estágio docência em duas disciplinas: Estágio Supervisionado em Biblioteconomia e Representação Descritiva da Informação Arquivística II em Arquivologia. Esse programa tinha a característica de designar os bolsistas para as disciplinas que estivessem com problema de evasão, e durante os dois anos em que as acompanhei, os resultados foram além das expectativas, superando a evasão em aproximadamente 90%. 

A experiência com a docência durante esse período foi de extrema importância para vivência em sala de aula. Também foi nesse momento que minhas aspirações pela docência se fortaleceram ainda mais, no contato com os alunos e na partilha de conhecimento com as professoras que me acompanharam durante esse processo. 

O primeiro ano de mestrado é um ano muito intenso, devido à carga de disciplinas que somos orientados a cursar. Logo, um período de muito aprendizado. As disciplinas cursadas nos oferecem uma bagagem teórica capaz de sustentar nossos objetos de pesquisa e nos direcionam para um caminho de amadurecimento no que concerne a prática de estudo e dedicação que a pós-graduação tanto necessita. 

Nesse período, apresentei e publiquei em anais os seguintes trabalhos: “A informação étnico-racial na perspectiva da organização de mulheres negras da Paraíba – BAMIDELÊ” (In: XIII Encontro Nacional em Ciência da Informação, Rio de Janeiro: Fiocruz); “E-mail: o gênero digital que encurta as fronteiras e amplia a comunicação” e “Fluência em uso de objetos multimídia na educação da sociedade da aprendizagem” (ambos apresentados no 4º Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação, Recife: Editora Universitária da UFPE); “Fontes de informação na web: apropriação, uso e disseminação da informação étnico-racial no movimento negro da Paraíba” (In: XVII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, Gramado: UFRGS); e “A importância da digitalização” (publicado na Revista do Fisco, João Pessoa). 

Ainda em 2012, participei com organizadora do “17º Encontro Nacional da Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher e Relações de Gênero”, que foi realizado em João Pessoa e como avaliadora na comissão cientifica do “XXXV Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência da Informação e Gestão da Informação (ENEBD)” que foi realizado em Belo Horizonte, MG; ministrei o minicurso “Acervo, Memória e População Negra”, organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas da UFPB; e comecei a exercer a função de Editora Ad Hoc (revisor de periódico) na Revista Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia (PBCIB), da qual exerço até o momento.  

No ano de 2013, dei início à pesquisa de campo do meu trabalho de dissertação, agora já amadurecido pela passagem nas disciplinas, sobretudo na disciplina de Sociologia da Informação, que forneceu a base teórica para o objeto de estudo que o trabalho demandava.  

Continuei produzindo e publicando, sempre em colaboração com minha orientadora e os membros do grupo do qual eu fazia parte. E dessa colaboração tivemos os seguintes artigos publicados em periódicos científicos: “Bamidelê: por uma sociologia da informação étnico-racial na organização das mulheres negras da Paraíba” (In: Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia, João Pessoa); “Produção de conhecimento sobre negros e negras em repositório digital na UFPB: acesso/democratização” (Biblionline, João Pessoa); e, “Temas sobre o/a negro/a: uma análise da produção de conhecimento no Curriculum Lattes” (In: Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) – ABPN). 

Enquanto membro do grupo de pesquisa, iniciamos um novo projeto, intitulado “Conhecimento Prudente para uma Vida Decente: uma análise da temática étnico-racial na produção de conhecimento em Ciência da Informação/Biblioteconomia/Arquivologia - período-2000-2013” (em andamento), que tem o objetivo de analisar a produção de conhecimento da área da Ciência da Informação/Biblioteconomia, também financiado pelo CNPq.  

Publiquei dois capítulos de livro: “As linguagens documentárias como fatores potencializadores no processo de recuperação da informação étnico-racial” (In: Representação da informação: um universo multifacetado, publicado pela Editora da UFPB, fruto das discussões e debates da disciplina de Representação da Informação, cursada no mestrado) e; “Discurso do sujeito coletivo: um modo de ler discursos em pesquisas na Ciência da Informação” (In: Experiências metodológicas em ciência da informação, também publicado pela Editora da UFPB, produção do NEPIERE/GEINCOS). 

Ainda como produção colaborativa do NEPIERE/GEINCOS, organizamos o III e-GEINCOS - “O Estado Brasileiro e a igualdade de direitos: desafios para além das ações afirmativas”, evento que já está consolidado no cenário nacional e conta com o apoio de duas importantes instituições de fomento à pesquisa: CNPq e Capes. 

Apresentei e publiquei em anais os seguintes trabalhos: “A informação étnico-racial em blogs: preservando a memória e construindo a identidade negra” (In: XIV Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, Florianópolis), e; “Movimento negro da Paraíba: disseminando a informação étnico-racial” (In: III e-Geincos - “O Estado Brasileiro e a igualdade de direitos: desafios para além das ações afirmativas”, João Pessoa). 

No início de 2014, defendo minha dissertação “Bamidelê: por uma sociologia da informação étnico-racial na organização de mulheres negras da Paraíba” e sou aprovada com distinção. Ao longo do estudo, busquei refletir a emblemática que gira em torno da organização de mulheres negras da Paraíba, principalmente no que concerne o que chamamos de “sociologia da informação étnico-racial”. A partir da discussão dos conceitos de apropriação, disseminação, democratização e preservação da informação, foi possível uma maior compreensão dessa disciplina dentro do campo da Ciência da Informação. O trabalho partiu de inquietações que se fizeram presentes ao longo de toda minha jornada acadêmica. Entendendo que, espaços como a Bamidelê, se configuram como lugar de memória que servem como fonte de informação para mulheres e homens, negros/as e não negros/as conhecerem e reconstruírem sua história. 

Em paralelo ao mestrado, fui convidada pela Associação dos Fiscais de Rendas e Agente Fiscais do Estado da Paraíba – AFRAFEP para participar como consultora na equipe que almejava a revitalização da Revista do Fisco. Nesse sentido, elaborei, coordenei e desenvolvi o projeto “Digitalização e preservação da informação: resgatando a memória da Afrafep por meio da digitalização da Revista do Fisco” que teve por objetivo preservar e disseminar a memória da Afrafep por meio da digitalização da Revista do Fisco. O projeto foi realizado entre 2012 e 2014 e contou com as seguintes etapas: Análise bibliométrica; Digitalização das revistas; Indexação dos artigos; Catalogação dos artigos no software de automação de acervos (construído exclusivamente para a revista) e Disseminação das informações do portal da Afrafep e na rede do fisco da Paraíba. 

Após a defesa, sem deixar de lado minha parceria com o grupo de pesquisa e as atividades às quais sou vinculada, ingresso novamente no mercado profissional em busca de novas experiências. Justamente, por acreditar que o saber-fazer docente está intrinsecamente ligado ao fazer da profissão.  

Minha vivência na Aliança Francesa João Pessoa (AFJP) não poderia ter sido mais proveitosa. Esta instituição, por se tratar de um espaço sem fins lucrativos, possibilita o desenvolvimento de ações que vão além da prática tecnicista da biblioteconomia. Atuando como Bibliotecária, coordenei a “Médiathèque Simone de Beauvoir”, controlei e atualizei a bibliografia básica para atender aos alunos de cada nível, desenvolvi ações educativas em parceria com os docentes, elaborei programações de atividades e previsão, executei serviços referentes à seleção do acervo, organização, processamento técnico, circulação e atendimento aos usuários. Além disso, construí uma política para preservação do acervo, orientei alunos, planejei, organizei e desenvolvi os serviços da Biblioteca, além de gerenciar toda parte de divulgação das mídias digitais da instituição (Facebook, Site, Twitter).  

Durante 2014, colaborei com três artigos publicados em periódicos científicos: “Comunidades virtuais de música como subsídio para a construção da identidade afrodescendente”, publicado na Revista Perspectivas em Ciência da Informação (Online); “Fontes de informação na Web: apropriação, uso e disseminação da informação étnico-racial no movimento negro da Paraíba”, publicado na Transinformação e “Gêneros digitais: expandindo a comunicação no Movimento Negro da Paraíba” publicado na Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação.  

Fui organizadora do livro “Práticas de pesquisa e abordagens contemporâneas em ciência da informação” fruto das pesquisas de mestrado da turma de mestres do ano de 2014 do PPGCI/UFPB, publicado pela Editora da UFPB, que contém o capítulo “Por uma sociologia da informação étnico-racial na organização das mulheres negras da Paraíba” de minha autoria. 

Apresentei e publiquei em anais os seguintes trabalhos, também em colaboração: “A informação musical disseminada em blogs de funk” (In: XV Enancib, Belo Horizonte) e; “A informação étnico-racial na organização de mulheres negras da Paraíba – Bamidelê” (In: V Seminário Nacional de Estudos Culturais Afro-Brasileiros e III Semana Afro-Paraibana, Cadernos Imbondeiro, João Pessoa).

Entre outros, publiquei o artigo “Revista digitalizada é apresentada em eventos regionais” na Revista do Fisco, João Pessoa, fruto de um trabalho técnico que visava a preservação de digital dessa revista, e fui convidada a proferir a palestra “Diversidade Negra na Paraíba” na Semana da Consciência Negra da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Sumé.  

Ainda em 2014, no segundo semestre mais precisamente, fui aprovada em primeiro lugar no Concurso para o cargo de Professora Substituta, do Departamento de Ciência da Informação da UFPB, publicado no DOU nº. 106, de 05.06.2014.  

Durante o período que passei como professora, ministrei as disciplinas de: Laboratório de Práticas Integradas II, Metodologia do Trabalho Científico, Representação Descritiva da Informação (no curso de Biblioteconomia) e Representação Descritiva da Informação Arquivística II (no curso de Arquivologia). Trabalhei na organização da Semana Acadêmica ArqBiblio. Participei como examinadora das bancas de TCC de Renata Freire Nogueira da Silva com o trabalho “Avaliação dos serviços da base de dados BRAPCI” e de José Leonardo de Oliveira Neto com o trabalho “As percepções dos leitores de histórias em quadrinhos como fonte de informação” (ambos de Biblioteconomia). Coorientei o discente “Josino de Carvalho Ribeiro” no trabalho “Preservação da memória institucional da AFRAFEP”. E, ainda, orientei os TCCs de Gelma Núcia de Araújo Bezerra “A responsabilidade social do bibliotecário com a prática de biblioterapia”, Lidyanna Sibelly Vieira de Almeida “Estudo de usuário: compreendendo os processos de mediação da informação na Biblioteca Setorial Ivanildo Brito do CCHLA/UFPB”, Gabrielly Silva das Neves “Memória e gestão: construindo um modelo de política de preservação e conservação de documentos para bibliotecas” e Maria Vania Leite “Responsabilidade social dos profissionais Bibliotecários/as do setor de referência em relação à disseminação das informações”, todas graduandas em Biblioteconomia. 

Pela minha experiência e envolvimento com a educação e com as temáticas étnico-raciais fui convidada a participar como examinadora externa das bancas de especialização do curso de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual da Paraíba, analisando os trabalhos de Marcos Antonio de Oliveira Dias, com o tema “O uso de recursos tecnológicos na sala de aula: a experiência em escola do estado da Paraíba-PB e de Alípio Magno Oliveira Farias que apresentou o trabalho intitulado “A educação das relações étnico-raciais: a experiência de uma escola estadual em João Pessoa/PB”.  

Permaneci nas duas instituições citadas acima (AFJP e UFPB) até março de 2015, quando deram inicio as atividades do doutorado no IBICT/UFRJ (Rio de Janeiro). Nesta instituição estou vinculada ao grupo de pesquisa do meu Orientador, o Prof. Dr. Gustavo Silva Saldanha. O grupo se denomina “Ecce Liber: filosofia, linguagem e organização dos saberes” e nele integro a linha de pesquisa “Fundamentos da Bibliologia” que tem por objetivo estudar as formas de constituição e de organização da matriz disciplinar da Bibliologia, como arte e ciência, no contexto histórico e contemporâneo, desenvolvendo uma reflexão crítica sobre as práticas de elaboração, de expressão e de apresentação do saber bibliológico, incluindo olhares sobre o ensino, a pesquisa e a extensão, a construção institucional e profissional, nos domínios de produção do conhecimento da Biblioteconomia, da Bibliografia, da Documentação e da Ciência da Informação.  

Minha ligação com esse orientador e com o grupo de pesquisa se estabeleceu devido o objeto do meu projeto de pesquisa para o doutorado que objetivava a “Ressignificação dos conceitos de Apropriação e Democratização em Ciência da Informação a partir do olhar da Sociologia da Informação”.  

Essa parceria se deu pelo meu histórico desde a graduação, em Biblioteconomia, assim como no Mestrado em Ciência da Informação explorando a interseção entre a Ciência da Informação (CI) e as Ciências Sociais, sobretudo nos estudos étnico-raciais. Minha vivência nessas pesquisas me permitiu perceber que estudos, a exemplo dos que desenvolvi (PIBIC, TCC e dissertação) correlacionam-se com as discussões mais contemporâneas que defendem o desenvolvimento do lado so    cial da CI. Esse tema se debruça sobre as questões científicas, e por assim dizer, epistemológicas, objeto de estudo do Prof. Dr. Gustavo Saldanha, que hoje é vice-líder do Grupo de Trabalho 1 – Epistemologia na Ciência da Informação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB). Atualmente, em parceria com o grupo, participo como voluntária da pesquisa “Itinerários volobibliográfico do centro do Rio de Janeiro” (em andamento). 

Dentre as disciplinas cursadas, destaco “Informação e Memória”, ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Pimenta, pois, para discutir as questões epistêmicas a partir de um olhar da Sociologia da Informação é imprescindível continuar desbravando os caminhos da memória, sobretudo, como propõe a disciplina, compreender a natureza e as concepções da leitura através das suas dimensões material e simbólica com a informação e a memória. 

Publiquei, como coautora, o resultado da pesquisa “Mediação da informação e violência contra mulheres: disseminando dados quantitativos no Centro Estadual de Referência da Mulher Fátima Lopes” no último ENANCIB (XVI Encontro Nacional de Pós-Graduação em Ciência da Informação) em João Pessoa, em outubro de 2015. O trabalho foi selecionado pelo GT 3: Mediação, Circulação e Apropriação da Informação, como o melhor do evento e também foi publicado na Revista “Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação”. 

Em 2016, o segundo ano de doutorado, ainda no Rio de Janeiro, visto que depois de muito esforço juntamente com a representação discente, as bolsas foram distribuidas para as pessoas que realmente não tinham vínculo empregatício, realizo estágio docência por dois semestres no Curso de Licenciatura de Biblioteconomia da Unirio sob a surpervisão do meu orientador na disciplina “Fundamentos da Biblioteconomia”. Uma experiência importante, pois mesmo já tendo sido professora substituta pela UFPB e estágia docente em outros momentos, nunca tive a oportunidade de atuar em uma turma de licenciatura e com as oportunidades e facilidades que o Rio de Janeiro oferece as(aos) dicentes em relação a bibliografia, locais, unidades de informação, bibliotecas, lugares de memória e outros.  

Ainda nesse ano, como de costume, participo do ENANCIB, o XVII, que aconteceu em Salvador, Bahia, neste publico 3 (três) trabalhos completos como comunicação oral e 1 (um) pôster, dois frutos da dissertação defendida em 2014, um da tese em andamento e outro de projeto em parceria com colegas da Paraíba. 

A participação no Ecce Liber e fórum de orientações coletivas me permitiram, ao longo do tempo que estive no Rio de Janeiro, principalmente, uma experiência prática de compreensão do mundo a partir das histórias de vida, uma epistemologia baseada na experiência do sujeito histórico. Por intermédio dessa prática de orientação vivenciei uma metodologia baseada na escrita de memoriais e compartilhamento de biobibliografias, do qual faço uso neste trabalho.  

A vivência no grupo e participação no fórum ainda me proporcionou explorar lugares e ambientes do Rio de Janeiro e adjacências, a fim de promover o compartilhamento de conhecimento, histórias e afetos. Questão fundamental para o meu desenvolvimento como pesquisadora e pessoa. 

O ano de 2017 é um divisor de águas na minha vida. Após cursadas as disciplinas e também o estágio docência, posso voltar para o meu estado, economizar e focar na pesquisa de tese, um belo plano. Contudo, para minha sorte, em maio deste ano sou convocada para tomar posse em um concurso de docente permanente para Universidade Federal da Bahia (UFBA), concurso este realizado em 2015 e que já estava para perder a validade (2 anos). Sendo assim, me mudo para Salvador e minha vida vira de cabeça pra baixo. Hoje sinto o quanto sou agraciada e tive uma oportunidade única naquele momento, principalmente tendo em vista o cenário político que vivemos, os ataques e os cortes orçamentários praticados indiscriminadamente as universidades públicas. 

 

4 Perspectivas de trabalho no ICI/UFBA e os enfrentamentos encontrados 

 

Ingressar em uma universidade pública como professora efetiva era um sonho que não imaginava conquistar tão cedo. Mas, a professora Mirian me formou pra isso, pra ser semente. Não quero falar muito sobre ela nesse momento, pois ela é uma protagonistas dessa pesquisa, mas ela é parte importante da minha vida e é por causa dela que escrevo esta tese, uma das principais motivações deste estudo. 

Dando continuidade, entrar na UFBA me transformou mais uma vez, a formação de professora efetiva muda minha realidade no Ensino Superior. É na sala de aula e desafiando os planos pedagógicos engessados de ensino, encontrando brechas para incluir as temáticas étnico-racial, de gênero e sexualidade que vou me reencontrando e ao mesmo tempo amenizando as questões do meu eu. Foi nas relações de orientações com discentes e em sala de aula que as tensões, os conflitos, os preconceitos, as discriminações, os machismos e os racismos foram e ainda continuam se minimizando nas relações com os pares na minha carreira acadêmica. Vivo em uma realidade de pessoas inspiradoras, jovens (em sua maioria) brilhantes e cheios de garra para lutar pela sociedade que acreditam, mas que ao mesmo tempo quando o governo não paga a bolsa não tem como ir as aulas.

  

Nessa realidade eu fui conseguindo encontrar minha vontade de voltar. Não é novidade o quanto a universidade é um ambiente adoecedor. Passei minha vida estudando, porque sempre acreditei e ainda acredito que o conhecimento deve ser transformador e libertador. Mas, a naturalização de comportamentos nocivos e a cobrança por resultados de excelência e produção, “publish or perish”, cada vez maior também são apontados rotineiramente como fatores determinantes para os altos índices de adoecimento mental.  

No meu caso, em particular, acredito que fui acumulando ao longo dos anos essas pressões juntamente com as de ascensão social, independência financeira, ajudar a família, hoje ajudar/colaborar com minhas alunas e meus alunos, desejos pessoais sucumbidos, dentre outras. Não posso dizer categoricamente o motivo, nem sei se um dia poderei, afinal são ‘n” fatores que levam uma pessoa a adoecer. Ainda estou em tratamento, e procurar ajuda foi a melhor coisa que eu fiz. Hoje tenho mais sensibilidade para perceber essas questões em mim, minhas/meus colegas, discentes, amigas e amigos. Saúde mental não é “mi mi mi” e precisa ser debatida!  

Diante do relato apresentado resumidamente, eu deveria ter concluído o doutorado em 2019.1, visto que minha turma de ingresso foi 2015.1, mas como apresentado, não aconteceu dessa forma. Fiquei muito tempo longe do doutorado, apenas focada no trabalho, pois era a única coisa que eu ainda conseguia fazer.  

Um ano depois de entrar na UFBA, final de 2018, tinha acabado de começar a terapia e a psicoterapia, angustiada porque não conseguia avançar, toda minha turma se encaminhava para concluir e eu sequer conseguia abrir o arquivo da tese. Entrei em contato com meu orientador, lhe expliquei toda a situação, falei das minhas inqueitações, e, em prantos falei que eu precisava trocar de tema para algo que falasse mais de mim, e que a minha relação com a Professora Mirian era muito forte e isso estava se transparecendo nas relações com minhas alunas e meus alunos. Meu orientador entendeu meu problema, aceitou a mudança do meu tema, e como sempre se mostrou disposto a contruibuir e colaborar com a formação das suas orientandas e dos seus orientandos. 

Uma etapa tinha conseguido, contudo tinha que começar do zero, pois agora o meu interesse era estudar (inspiradas na minha grande orientadora) as trajetórias de vida de pesquisadoras negras que contruibuiram e ainda contruíbuem para os campos da Biblioteconomia e Ciência da Informação. 

Em 2019, buscando retomar o doutorado, cuidar de mim e ao mesmo tempo trabalhando dedicação exclusiva como professora, consigo publicar 3 capítulos de livro, 2 em parceria com orientandas, que abordam as temáticas de gênero, raça e classe e foram publicados nos livros do grupo do Selo Nyota. 

Como estratégia para ampliação dos estudos teóricos e empíricos da tese em questão, aproveito a oportunidade que o Projeto Político Pedagógico (PPP) do Curso de Graduação em Arquivologia oferece e submeto como proposta ao Colegiado do curso, uma disciplina a ser ofertada como componente especial no semestre 2019.2, que tinha como tema “Feminismo negro, Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação” e tinha por objetivo apresentar o pensamento Informacional de pesquisadoras negras do campo da Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação e suas redes intelectuais, tendo como base o fundamento da epistemologia social. A proposta foi aprovada e a disciplina contou com 24 discentes, entre as mais variadas formações (Biblioteconomia, Gênero e Diversidade, Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades e a principal Arquivologia), visto que o sistema da UFBA oferta esses componentes para vários cursos. 

A experiência na disciplina, a leitura com as novas teorias, o fascínio das pessoas em estudar esse tema dentro do Instituto de Ciência da Informação impulsionou meu desejo em concluir esse trabalho, e contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento dele, principalmente nas discussões e debates acalorados sobre o nosso campo e o seu compromisso com os temas que envolvem a sociedade. Ressalto ainda a relevância do produto de final de curso, o evento “Diálogos e Saberes com Intelectuais Negras”, primeiro do seu gênero no Instituto, cuja temática desvelava a relação entre as intelectualidades negras e o campo da Arquivologia, Biblioteconomia e Ciência da Informação. Onde promoveu o diálogo entre os assuntos discutidos em sala de aula, e respaldados na literatura científica corrente, com as vivências de intelectuais negras da cidade de Salvador, entendendo que esta interseção entre a sala de aula e a vivência das palestrantes promoveria a práxis das e dos discentes, bem como corroboraria a suas futuras práticas, no sentido da educação emancipatória e para a vida. A atividade aconteceu em ciclo de discussões, mediada por docentes, tratando de diálogos, experiências e práticas advindas de intelectuais negras acadêmicas e não acadêmicas. Estas, intercaladas pelo documentário "Urgente e Necessário: Observatório de Direitos Humanos da UFBA", que abordou sobre Direitos Humanos, Memória e Justiça na Universidade. O evento ainda contou com um espaço de promoção das atividades artístico-econômicas das partícipes, sobretudo jovens empreendedoras negras. 

Minhas experiências, sejam elas com pesquisa, ensino ou extensão, me ensinaram que ações propostas pela comunidade científica devem ser pensadas vislumbrando o bem estar social e que nossa prática só faz sentido se estiver atrelada as contribuições científico-sociais.  

Nesse sentido, entendo que é importante construir estratégias que partam também das universidades para pensar a questão da memória como a possibilidade para reconstruir a memória coletiva de um conhecimento que auxilie na redução de preconceitos e exclusões, sobretudo, de grupos marginalizados em diversos espaços sociais, tais como a escola, a universidade, o trabalho e também as relações cotidianas.  

Minha experiência de trabalho, atuando como professora, desempenhando atividades nos 3 pilares da educação universitária (ensino, pesquisa e extensão), construindo e desenvolvendo projetos de pesquisa e extensão está sendo fruto e articulação dessas experiências vividas ao longo de 13 anos de vida acadêmica na universidade pública, 8 (oito) deles ao lado da Professora Mirian. Por isso me vejo parte integrante desta pesquisa, pois sou fruto do seu legado acadêmico, sou um dos galhos/ramas do seu Baobá. 

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