Memórias
MARIA APARECIDA MOURA

No caso da professora Aparecida Moura também apresentamos as narrativas de sua trajetória de vida a partir de seu Memorial Acadêmico, este apresentado para Defesa de Professora Titular da UFMG, como fonte bibliográfica autoral.
Percursos acadêmicos em Ciência da Informação
[...] tenho me construído como intelectual no campo da Ciência da Informação nos últimos 23 anos. Essa construção, no contexto da Ciência da Informação, representa um desafio em virtude de esta ciência ter sido considerada, ao longo de sua institucionalização no Brasil, como um campo voltado à formação de recursos humanos para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Em virtude disso, não parecia haver uma relação natural entre intelectualidade, da perspectiva assinalada acima, informação e tecnologia. Entretanto, nas duas últimas décadas, em virtude do intenso desenvolvimento das tecnologias informacionais em rede e da centralidade da assumida pela informação nas diversas esferas da vida, o campo passou a ser chamado a responder ao desafio de pensar as implicações culturais, sociais e políticas do capital –informação. [...]
No acompanhamento das trajetórias memoráveis que marcaram e formaram a minha visão de mundo sempre estiveram presentes perfis acadêmicos urdidos pelo vanguardismo responsável, pelo fôlego e verticalidade no trato das questões teóricas e metodológicas, pela atenção dada ao aparentemente insignificante e suas prováveis repercussões, pela liderança encorajadora, pela produção acadêmica orientada, não pelos hits, mas pelo cientificamente incontornável e pela generosidade, temperança e acuidade na formação humana que emancipa e engaja. Nesses termos, embora não se saiba a priori a trilha a ser percorridas, as minhas escolhas no campo da Ciência da Informação aconteceram imersas nesses valores desde sempre admiráveis.
Estou vinculada à ECI há cerca de um terço de seus 61 anos de história. Creio que essas duas décadas foram suficientes para poder conhecer e me comprometer com os rumos desta Instituição e participar de modo propositivo e responsável em seus avanços, indagações e reconfigurações.
A formação acadêmica por mim realizada teve por perspectiva a possibilidade de alcançar uma interlocução entre o campo da Ciência da Informação e as demais áreas de conhecimento. Afinal, acho pertinente verticalizar no específico, mas orientado por uma visão ampla das possibilidades de diálogo nas fronteiras do disciplinar e para além dele. É por isso que à Biblioteconomia aliei o mestrado em Educação, o doutorado em Comunicação e Semiótica e o pós-doutoramento em Semiótica Cognitiva e Novas Mídias.
Os diversos estudos realizados e orientados por mim buscaram fortalecer nossa identidade como campo científico, sem, contudo deixar de lado o enfrentamento de questões e objetos contemporâneos. Nesse sentido, continuamente busquei mapear as orientações teóricas e metodológicas e discutir a pertinência em assimilá-las nos estudos desenvolvidos no campo.
É nesse sentido que participei com trabalhos, por exemplo, de sete das 12 edições de Enancib em seus 18 anos de realização. Ressalta-se que nestas ocasiões os trabalhos apresentados foram norteados por um eixo teórico metodológico coerente e que, a cada nova edição, os nossos estudos ganharam em robustez, fruto de pesquisas continuadas, orientações, debates e reflexões realizadas no âmbito do Grupo de estudos NEMUSAD. Além disso, participo há vários anos, das comissões examinadoras de mestrado e doutorado em Ciência da Informação, bancas de concursos na ECI, Departamento de Comunicação da UFMG e Faculdade de Educação, parecerista ad hoc de revistas eventos científicas nacionais e internacionais o que nos permitem incorporar uma visão mais ampla de constituição de um campo científico.
Do ponto de vista teórico, a Filosofia da Linguagem e as Teorias da Significação em geral e a Semiótica em particular, têm nos fornecido bons aportes teóricos na condução dos estudos tanto na organização da informação e seus desdobramentos específicos, quanto na constituição e ampliação dialogada dos fundamentos teóricos para os estudos dos fenômenos informacionais contemporâneos e históricos.
Nos últimos anos, tenho também dedicado atenção especial aos fóruns internacionais voltados aos fenômenos informacionais como possibilidade de ampliação da interlocução e de fortalecimento de nossas parcerias acadêmicas. Desse modo, participei com trabalhos em importantes eventos, dentre os quais destaco o Congresso Mundial de Semiótica em 2009, a ISKO – Roma em 2010, ISKO Espanhola em 2009, a International Conference on Webometrics, Informetrics and Scientometrics (WIS) & COLLNET Meeting realizados em na Índia em 2010 e Turquia em 2011, do H2PTM - Hypertexte et Hypermédia, Produits, Outils et Méthodes realizado em Paris em 2009 e McLuhan Galaxy Conference - Understanding Media, Today, realizado em Barcelona em 2011. Como desdobramento desses eventos e visibilidade internacional tenho tido a oportunidade de enviar alunos oriundos da ECI para estágios em importantes pólos mundiais de pesquisa.
A legitimação alcançada nesse percurso me permitiu também participar da gestão da Universidade em cargos estratégicos e prestigiosos para a interlocução acadêmica. Dentre essas funções, destaco a coordenação do Programa de Pós- Graduação em Ciência da Informação e a Coordenadoria de Políticas de Inclusão Informacional – CPINFO/UFMG, assumida em 2010 e que tem me permitido realizar importantes ações que ampliam a visibilidade da Ciência da Informação em geral e da ECI no cenário nacional e Internacional.
O Grupo de Estudos e Trabalho em Educação Comunitária - GETEC
Comecei minhas atividades profissionais no campo da Ciência da Informação como documentalista do GETEC – Grupo de Estudos e Trabalhos em Educação Comunitária. O GETEC originou-se do CEDOC – Jovem, o primeiro centro de informação social de Minas Gerais. A instituição foi criada nos anos 60 e dedicava–se à organização das informações sociais de uma perspectiva não hegemônica para apoiar o fortalecimento dos movimentos sociais e a luta contra a ditadura. Esse trabalho, realizado regularmente dos anos 1960 aos dias atuais, era feito em função de os próprios movimentos não terem condição de documentarem-se. Então, o grupo era um centro de referência para os movimentos sociais, cobrindo em termos informacionais, alguns tópicos da agenda social daquela ocasião.
Em princípio, fui secretaria e trabalhava, ao mesmo tempo, com as lideranças sociais e com pesquisadores das universidades e também com muitos pesquisadores internacionais. Enfim, pessoas que tinham interesse em compreender os movimentos sociais naquele momento, a eclosão e como se estabeleciam as lideranças nesse contexto.
Senti que ali se fortalecia a minha sensibilidade para o trabalho com a informação.
Devido a essa experiência no Getec, quando comecei o curso de graduação em Biblioteconomia, aos 24 anos, eu já tinha clareza da minha vocação para atuar como bibliotecária e estava certa de que meu trabalho com a informação seria pautado numa perspectiva social que sempre fez parte da minha trajetória pessoal.
Minha graduação foi intensa porque eu tinha uma prática profissional vinculada ao GETEC. A questão da interdisciplinaridade era natural em virtude dos contatos que estabeleci relacionados com a informação e a própria trajetória de interação e militância nos movimentos sociais. No trabalho de documentação era preciso acionar conhecimentos ratificados e interagir com pessoas de formações distintas. Desse modo, tornou-se natural a criação de vínculos com outras áreas de conhecimento.
Formei-me nessa conjuntura. Na época, havia uma grande demanda por profissionais que pudessem documentar a informação na emergência dos acontecimentos. Fotografar, gravar, organizar informações que permitissem a sensibilização do discurso acadêmico para as questões sociais. Nesse período ressignificava-se o papel dos intelectuais e a Universidade tornando-a um espaço de pertinente de democratização dos saberes.
A formação acadêmica: transdisciplinaridade e diálogo
A minha formação acadêmica seguiu um curso natural de construção e amadurecimento, porém, sem nenhum planejamento rígido a priori. Desde a graduação em Biblioteconomia, passando pelo mestrado em Educação, doutorado em Comunicação e Semiótica, estágio de pós-doutorado Semiótica e Novas Mídias e o início de uma formação em Filosofia sempre assumi um percurso formativo que me permitisse dar conta dos desafios que se apresentavam.
A sensação de ordem harmônica no momento de construção da narrativa do memorável não dá conta das idas e vindas, dilemas e enfrentamentos necessários a essa construção. Nessas etapas formativas vividas fui acompanhada por professores sérios, experientes e comprometidos com um ideal de formação humana que vai além do estritamente acadêmico.
Em virtude disso, pude assumir temáticas de pesquisa tecidas na articulação de um fundamento teórico robusto e por temáticas ainda pouco repertoriadas à época da realização dos estudos.
O foco na perspectiva dialógica, processual e semiósica para analisar os fenômenos sociais e informacionais tornou-se minha característica formativa fundamental. No entanto, é necessário ressaltar que essa movimentação intelectiva nada tem dispersão acadêmica e/ou superficialidade na condução dos estudos. Ao contrário, a abertura para o diálogo transdisciplinar exige verticalidade, fôlego, espírito aberto e tenacidade no desenvolvimento dos e ações.
Atuação nos cursos de graduação da Escola de Ciência de Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (ECI/UFMG)
O exercício do magistério na Universidade Federal de Minas Gerais aconteceu de maneira tão natural quanto possível, em circunstâncias como essas. Dito de outro modo, não houve tempo para hesitações e dúvidas. Fácil não foi. Impossível? Tampouco. Desafiador e prazeroso? Imensamente!
Formei-me na graduação em Biblioteconomia no segundo semestre de 1993. Em seguida, dei início ao mestrado em Educação na Faculdade de Educação da UFMG. No segundo semestre de 1994, surgiu a possibilidade de atuar como monitora de Pós-Graduação na Escola de Biblioteconomia da UFMG. Participei da seleção e fui aprovada para atuar no Departamento de Teoria e Gestão da Informação na disciplina “Informação e Sociedade”, sob a orientação da professora Marta Kerr Pinheiro. Fiquei à frente dessa disciplina por dois semestres, um verdadeiro presente, já que as temáticas tratadas na disciplina estabeleciam conexões com o que eu estudava no mestrado e com as pesquisas desenvolvidas anteriormente na iniciação científica.
Ao fim desse período, eu já estava completamente integrada como docente à Escola na medida em que também cursava disciplina eletiva no PPGCI. Recebi, então, outros convites para continuar atuando como monitora de outros professores da Escola. Contudo, em virtude de uma conversa com a professora Isis Paim, na ocasião coordenadora do PPGCI, sobre o processo de renovação da Escola e de minhas possibilidades como docente, resolvi apostar no feeling e aconselhamento da colega no sentido de prestar concurso para professora substituta do Departamento de Organização e Tratamento da Informação – DOTI. Na opinião da professora, a área de organização da Informação representava um eixo fundamental na Ciência da Informação e precisava ser reforçada por “jovens talentos” produzidos na própria Escola. Fiquei convencida e agradecida pelos conselhos e novos caminhos a seguir.
Assim, prestei concurso para a área de organização e tratamento da informação em 1995, atuando como professora substituta por um ano. Na ocasião ministrei diferentes disciplinas do assumidas pelo Departamento de Organização e Tratamento da Informação. Em 1996, ao final do contrato de substituição e já com a conclusão do mestrado, tive a oportunidade de prestar concurso como professora Assistente no mesmo Departamento.
Uma vez aprovada no concurso, assumi as atividades docentes atuando prioritariamente nas disciplinas de Organização e Tratamento da Informação, mas também revezando-me na oferta de conteúdos no núcleo de fontes e de disciplinas optativas, uma oportunidade de introduzir inovações no currículo do curso de Biblioteconomia.
Durante esse período, o programa de formação da Graduação passou por duas reformas curriculares balizadas por intensos e acalorados debates envolvendo a Comunidade da ECI. Garantir o necessário equilíbrio entre as demandas sociais, as necessidades do mercado, o novo estatuto da informação e as intensas transformações e reconfigurações acentuadas pela globalização econômica foi um debate difícil e, em alguns momentos, extenuante. Devido à intensidade das mudanças atuais, por vezes, chegávamos a pensar que deveríamos estar em constante reforma curricular, afinal as transformações que tentávamos implantar em nosso currículo pareciam ser constantemente atropeladas pelos novos desafios postos aos profissionais da informação e consequentemente aos centros formadores.
Outro debate também bastante intenso e atual é aquele relacionado às transformações no perfil do corpo docente da ECI. Esse debate tem exigido do grupo de professores que compõem a Escola muita discussão e reflexão. O certo é que alcançamos nesses 61 anos de ECI muito respeito institucional em nível nacional e internacional que se reflete na qualidade dos profissionais que a Escola tem formado. Todavia as recentes expansões na oferta de cursos exigem um projeto coeso na articulação da tradição do campo com os novos desafios assinalados no desenho de formação profissional exigido nesses novos tempos.
Devido à expansão da Escola, a partir de 2009, com a incorporação dos cursos de Museologia e Arquivologia, acredito que muitas transformações ainda estão por vir. A inclusão das novas formações exige que o debate interdisciplinar se efetive não apenas no nível discursivo, mas também no âmbito das práticas pedagógicas e no contexto do desenvolvimento das pesquisas.
Meu esforço nos últimos anos foi o de incorporarmos resultados das pesquisas desenvolvidas e consonância com um diálogo com a sociedade. Isso permite aportar maior articulação entre a história disciplinar e a atualidade e estimular o compromisso dos alunos com o campo de conhecimento. Nesse sentido, introduzi nas disciplinas ofertadas um olhar sobre a organização e o uso da informação com foco no processo de concepção da informação da perspectiva cultural e social. Assim, coloquei em diálogo metodologias clássicas e alternativas resultantes de apropriações populares com os elementos dados pelos resultados das pesquisas recentes. Como exemplo, apresentei as plataformas móveis como uma instância propícia ao trabalho do bibliotecário; ampliei o método de composição de tesauros e ontologias, com a incorporação das redes colaborativas como parte do processo de renovação e legitimação da linguagem; introduzi as teorias da significação no entendimento do caráter processual da informação e suas implicações no desenvolvimento das fontes informacionais, na organização e disseminação das mesmas. Incorporar a articulação entre os distintos profissionais que atuam no contexto informacional como forma de especificar a abordagem própria à Ciência da Informação no compartilhamento da mediação informacional exercida por distintos profissionais também foi uma experiência nesse sentido. Além disso, atuei ativamente nos processos de reforma curricular, como forma de institucionalizar as mudanças que a área tem realizado e que precisam estar presentes na formação acadêmica de nossos alunos.
A atuação docente no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFMG
Solicitei meu credenciamento no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFMG em 2002 dando início às atividades com a participação em bancas de qualificação e defesa de trabalhos de mestrado e a colaboração com professores do Programa no desenvolvimento de disciplinas. Nesse sentido, dividi a disciplina de Tratamento da Informação inicialmente com os professores Eduardo Wense Dias e Lídia Alvarenga. A disciplina já existia na grade curricular e o nosso esforço era o de ofertar um conteúdo clássico de organização da informação e do conhecimento que permitisse o diálogo e a compreensão dos conceitos centrais desse domínio com os distintos projetos desenvolvidos nas três linhas de pesquisa do PPGCI.
Foi uma experiência enriquecedora por permitir-me iniciar o aprendizado com professores experientes em termos de Pós-Graduação (ambos haviam sido coordenadores do PPGCI/UFMG). Com os referidos professores aprendi a distinguir a estrutura e a condução de uma aula em nível de pós-graduação e o estabelecimento de interface com as pesquisas em curso e o sistema de avaliação.
[...]
Em 2008 e 2009, em virtude de estar à frente da coordenação do PPGCI, ofertei o seminário introdutório que visa dar aos alunos recém-integrados ao programa uma visão do projeto político pedagógico, bem como a sua articulação com as trajetórias formativas propostas e os perfis acadêmicos almejados e interesses de pesquisa do corpo docente. Tive a oportunidade de expressar-me como coordenadora e professora do PPGCI, além de fornecer aos alunos uma visão coerente e propositiva da formação ofertada pela UFMG. Foi um momento importante e delicado em virtude da mudança do conceito do Programa de cinco, para quatro. Era necessário fortalecer o engajamento dos alunos à proposta do Programa e o estabelecer um compromisso com a mudança de patamares na avaliação junto a Capes.
[...]
Em decorrência do esforço envidado pelo grupo de docentes e discentes em torno de um projeto comum o Programa voltou ao conceito cinco na avaliação de 2009.
A criação do curso de Ciência da Informação em Moçambique e a colaboração acadêmica sul- sul
Em 2005, o governo brasileiro, por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), junto com os seus congêneres de Cabo Verde, Moçambique e Angola, assinaram um tratado de cooperação, cujo objetivo é de facilitar – por intermédio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – a mobilidade de cientistas, pesquisadores e técnicos, de modo a fortalecer as relações de cooperação científica e tecnológica entre os países envolvidos, contribuindo para a criação e o fortalecimento das capacidades nacionais, através de atividades de assessoramento, formação e o intercâmbio de experiências, no processo de organização e gestão da Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.
Com intuito de atuar nesse campo a ECI/ UFMG - Brasil (instituição executora nacional) e o FBLP (Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa) e o CIDOC (instituição co-executora estrangeira) desenvolveram no período de 2005-2008 o projeto Estudo de Viabilidade para Implantação do Curso de Graduação em Ciência da Informação em Moçambique, aprovado pelo CNPq com a participação de pesquisadores brasileiros e moçambicanos, de diferentes áreas do conhecimento, entre elas a Ciência da Informação, Educação, Sociologia, Filosofia e Ciência da Computação. Neste projeto atuei como coordenadora em colaboração com a professora Wanda do Amaral, do FBLP, que coordenou a equipe moçambicana.
O projeto nasceu da necessidade de compreendermos a questão da cooperação internacional sob um ponto de vista distinto do que regularmente se estabelece para os países em desenvolvimento. Assim, percebeu-se que os processos tecnológicos globais de ampliação dos mercados econômicos proporcionaram a um só tempo o acirramento das desigualdades e a aproximação dos povos do mundo inteiro. Em outras palavras, os mesmos instrumentos que geram a diferenciação econômica e política entre os povos são os que nos abrem as possibilidades de desenvolver, do ponto de vista da cooperação internacional, uma perspectiva endógena e negociada entre os iguais, ou seja, entre os países periféricos.
No início, dada às altas taxas de analfabetismo em Moçambique, não parecia razoável o desenvolvimento de um projeto voltado à formação em nível superior em Ciência da Informação, campo que deve contar com elevados índices de alfabetização e uma boa infraestrutura em termos de indústria informacional. Contudo, partiu-se da constatação de que era necessário desenvolver uma proposta de educação que permitisse, do ponto de vista da formação humana, a superação das amarras do passado colonial.
Logo, buscamos estruturar uma equipe de trabalho que refletisse, em termos das competências intelectuais e profissionais, a envergadura do desafio proposto. Desse modo, constituiu-se uma equipe composta pelas seguintes áreas do conhecimento: Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Comunicação, Educação, História, Filosofia, Letras e Ciência da Computação.
O desafio na composição dessa equipe foi compatibilizar as múltiplas visões em torno do estudo proposto. Por isso, construímos uma abordagem metodológica que permitisse o diálogo interdisciplinar entre essas áreas. Acreditamos que desses esforços interdisciplinares poderiam advir novas contribuições para as áreas em particular, assim como para a compreensão do fenômeno informacional na sociedade globalizada. A interdisciplinaridade de acordo com Domingues (2005: p.24) refere-se à aproximação de distintos campos disciplinares para a solução de problemas específicos. Nessa articulação, os campos disciplinares compartilham e inovam metodologias. Além disso, após o movimento cooperativo, os campos podem se fundir ou gerar uma nova disciplina.
O projeto teve por objetivo realizar um estudo de viabilidade social, política e técnica para a criação de um curso de Ciência da Informação em Moçambique, considerando-se as demandas informacionais postas pela Sociedade da Informação no âmbito dos países em desenvolvimento. Além da formalização da cooperação entre Moçambique e o Brasil em matéria de ciência e tecnologia, o projeto visou dar início a um fluxo de cooperação científica com vistas a contribuir na produção de conhecimento no âmbito da temática referente à Sociedade da Informação de modo mais sistemático. Na ocasião o grupo formado acreditou que, do ponto de vista dos países em desenvolvimento, era possível encontrar soluções comuns em que se leve em consideração as particularidades das nações implicadas.
O curso de graduação em Ciência da Informação de Moçambique foi pensado visando compreender a Sociedade da Informação do ponto de vista dos países em desenvolvimento. Na proposta buscou-se imprimir uma dinâmica que permita avançar tomando o local como referência e o global como contexto. O projeto buscou propor uma formação na qual a informação é compreendida como o produto humano que contribui efetivamente no processo de construção do conhecimento, e não como um produto de valor agregado orientado pela voracidade do mercado em busca de novas fronteiras consumidoras.
II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora
Em julho de 2006, fase na qual eu estava em estágio de pós-doutoramento junto à Fondation Maison Sciences de Homme (FMSH) de Paris, fui convidada pelos Ministérios das Relações Exteriores e da Cultura para proferir palestra na II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora (CIAD). O evento, que já havia ocorrido em 2004 em Dacar, Senegal, realizou-se em Salvador no período de 12 a 15 de julho daquele ano.
O evento contou com as presenças de lideranças políticas e intelectuais do mundo inteiro dentre os quais o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva; a ecologista queniana, Wangari Maathai; ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2004, e o presidente da União Africana, Alpha Oumar Konaré. Participei como representante do Brasil na mesa que debateu Tecnologia da Comunicação e Informação com o tema “Sociedade da informação, mídias e novas tecnologias: invisibilidade dos povos ou expansão dos espaços de expressão e resistência?“. Nessa conferência, assinalei os avanços e retrocessos da sociedade da informação no contexto dos países em desenvolvimento, notadamente os países africanos e sua interface com o Brasil.
Durante o evento atuei ainda como intérprete (português/Francês) entre intelectuais brasileiros e o presidente da União Áfricana e ex- presidente do Mali (1992-2002), Alpha Oumar Konaré. Foi uma possibilidade de estreitar laços com intelectuais de outros países africanos e redimensionar as ações e a perspectiva internacional envolvida em meus trabalhos de pesquisa. A II CIAD ampliou ainda mais as minhas perspectivas de diálogo e colaboração sul-sul e deu-me a dimensão da importância estratégica do meu trabalho como intelectual brasileira.
A experiência como professora convidada da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) e na Fondation Maison Sciences de l’Homme (FMSH)
No ano de 2005, conheci o laboratório Equipe Sémiotique Cognitive et Nouveaux Multimédias (ESCoM) da Fondation de la Maison des Sciences de l'Homme (FMSH/Paris). Esse laboratório desenvolve experiências acadêmicas no campo da organização e disseminação da informação científica muito próximas daquelas que tenho desenvolvido no Brasil e isso foi motivo de grande contentamento, dado que eu havia encontrado meus interlocutores acadêmicos. O estabelecimento do contato com o coordenador do laboratório, professor Peter Stockinger, motivou-me de tal forma que começamos a traçar possibilidades de construção de parcerias acadêmicas em nosso domínio de interesse, discurso e comunicação científica no campo das ciências sociais e humanas.
Atualmente, integro a equipe ESCoM; tendo atuado, em 2008, como professora convidada da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), devido as ações desenvolvidas ao longo do pós-doutoramento.
[...]
A cooperação científica se consolidou no período de 2010-2011 e conta com a participação do coordenador da ESCoM, Peter Stockinger, em atividades relacionadas à Comunicação científica.
Comitês editoriais, científicos e equipes de pareceristas Ad Hoc
Nos últimos anos, tenho exercido a função de parecerista na avaliação de artigos científicos, projetos de pesquisa e trabalhos científicos em eventos nacionais e internacionais. Dentre as atividades desenvolvidas com o referido trabalho, destaco os seguintes comitês: parecerista Ad Hoc do CNPq e da Capes; da Revista Transinformação, da Revista Perspectivas em Ciência da Informação, do GT 2 (Organização e Representação do Conhecimento) e GT3 ( Mediação, circulação e apropriação da Informação) da Associação Nacional de pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB), do Capítulo Francês da ISKO(International Society for Knowledge Organization), da rede MUSSI (Réseau Franco-Brésilien de Chercheurs en Médiations et Usages Sociaux des Savoirs et de l'Information), da Câmara de Pesquisa da UFMG, do Encontro do Sistema de Bibliotecas da UFMG, do Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias – SNBU, dentre outros.
Trata-se de uma atividade fundamental ao desenvolvimento da Ciência da Informação, como campo científico em nível nacional e Internacional. Vale ressaltar as dificuldades e a responsabilidade no desenvolvimento desse tipo de atribuição, sobretudo, em virtude de atuar na consolidação dos princípios éticos e científicos que devem regular o campo. Creio que o compromisso com a história do campo e a sensibilidade ao novo me tem permitido exercer com serenidade essa atividade.
Revista Memex – Informação, Cultura e Tecnologia
No ano de 2002, idealizei em parceria com orientandos de mestrado a Revista Memex – Informação, Cultura e Tecnologia, uma revista eletrônica multidisciplinar de periodicidade bimestral, dedicada à divulgação de estudos relativos à informação, cultura e tecnologia. A revista é multilíngue e publica trabalhos em português, espanhol, inglês e francês. Através da implementação da revista tivemos a oportunidade de contribuir, do ponto de vista da Ciência da Informação em interface com outras áreas de conhecimento, no debate sobre Ciências Sociais e inovações tecnológicas. No período citado divulgamos, através da revista, estudos, experiências, percepções, produtos e serviços concebidos nessa década de intensas transformações sociais e tecnológicas. A Revista foi incorporada ao NEMUSAD e atualmente passa por reformulações para integrar o portal de periódicos da Escola de Ciência da Informação da UFMG.
A Coordenadoria de Políticas de Inclusão Informacional – CPINFO
Em 2010 fui convidada pelo atual Pró-Reitor de Planejamento da UFMG, professor João Antônio de Paula, a conceber é implantar um setor voltado ao diálogo entre a Universidade e a Sociedade a partir da na Pró- Reitoria de Extensão tomando como referência a informação de interesse público. Senti-me profundamente honrada com o convite e dei início a parcerias e projetos que tornassem a proposta viável. Assim, coordeno desde o mês de março de 2010 a CPINFO (Coordenadoria de Políticas de Inclusão Informacional) – órgão vinculado à Diretoria de Divulgação Científica e à Pró-Reitoria de Extensão da UFMG –, que objetiva identificar, sistematizar, organizar, produzir e disseminar informações e conhecimentos de interesse público na interação Universidade-Sociedade.
[...] À frente desta coordenadoria estabeleci parcerias internas e externas à UFMG que tem permitido ampliar a capilaridade das ações da Universidade e fortalecer o diálogo em torno das questões referentes aos processos de produção e disseminação da informação e do conhecimento.
Dentre os nossos principais parceiros estão as Prefeitura Municipais de Contagem e Belo Horizonte, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia para Web e sobre a Dengue, o sistema de Bibliotecas da UFMG, o CEDECOM e o Laboratório de Ciência da Computação (LCC).
O projeto “Informação, inclusão e solidariedades em rede: a formação de lideranças informacionais comunitárias” integra os esforços da Prefeitura de Contagem em parceria com a UFMG e as agências da ONU (PNUD, UNESCO, UNODC, UNICEF, OIT, UN-Habitat) de desenvolver ações dirigidas a alcançar a redução da violência que afeta crianças, jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade. A ação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) relaciona-se à formação para a participação juvenil através de estratégias compartilhamento e de produção de informações em redes de solidariedade comunitária. O projeto visa ainda proporcionar educação pública e a formação de recursos humanos intra e extramuros acerca do uso de tecnologias da informação e comunicação nas diversas esferas da vida, visando ampliar as possibilidades da participação cidadã na sociedade da informação e do conhecimento.
O projeto tem por objetivo atuar de forma orgânica na “realidade complexa e multideterminada do fenômeno metropolitano” através da identificação, sistematização, fomento e análise das redes informais e sistemáticas de solidariedade e cooperação comunitária desenvolvidas no âmbito da RMBH no campo da inclusão informacional, com vistas a fomentar a cultura informacional e o funcionamento colaborativo em rede, através da adoção de tecnologias sociais e da formação humana das lideranças informacionais comunitárias.
Através dessa iniciativa busca-se fomentar o protagonismo comunitário, sobretudo o juvenil no desenvolvimento de iniciativas que visem à sustentabilidade das ações comunitárias e sua autonomia em relação à tutela do Estado, das estruturas político-partidárias ou de organizações do terceiro setor. Busca-se ainda investir em processos de formação de lideranças juvenis com o objetivo de fazer face aos altos índices de violência a que estão submetidos os jovens do município de Contagem, de acordo com a constatação de vulnerabilidade presentes nos prognósticos baseados nas estatísticas de 2006 que previa 460 mortes por homicídio de adolescentes de 12 a 18 anos até 2012.
Como parte dessa iniciativa, publicamos em 2011 o livro “Cultura Informacional e Liderança Comunitária: concepções e práticas”, em versão impressa, E-book e Internet no qual fornecemos subsídios para a ação comunitária em tempos de inovações tecnológicas. A publicação toma como eixo fundamental a autonomia esclarecida das lideranças comunitárias desenvolvidas a partir da conexão de saberes acadêmicos e populares e busca criar os elementos necessários à participação comunitária na Sociedade da Informação e do Conhecimento e nos desdobramentos dela decorrentes de uma perspectiva mais equitativa e menos contingente.
Criei e coordeno desde agosto de 2010 o site de compartilhamento de vídeos acadêmicos UFMG TUBE. O projeto, mantido pela CPINFO, é um canal de postagem colaborativa de vídeos dedicados à divulgação da produção científica desenvolvida por professores, pesquisadores e alunos vinculados a UFMG. O projeto integra o esforço institucional de preservação, edição e publicação de acervos audiovisuais culturais e científicos.
Extensão e Ações Afirmativas na UFMG
Em agosto de 1998, assumi a coordenação do Centro de Extensão da Escola de Ciência Informação, mas, devido a minha liberação para qualificação no País a partir de outubro do mesmo ano, fui levada a deixar o referido cargo, passando a realizar contribuições pontuais em projetos específicos.
Em 2001, passei a integrar o Programa Ações Afirmativas na UFMG, coordenado pela professora Nilma Lino, da Faculdade de Educação, uma iniciativa que nasceu no bojo da discussão sobre a democratização do acesso ao ensino superior brasileiro. Nesse sentido,
“integra o conjunto dos 27 projetos aprovados no Concurso Nacional Cor no Ensino Superior, promovido pelo Programa Políticas da Cor, do Laboratório de Políticas Públicas da UERJ, com apoio da Fundação Ford, no ano de 2001. Trata-se de uma proposta que apresenta estratégias de intervenção com vistas a reduzir os efeitos antidemocráticos dos processos de seleção e exclusão social impostos aos afro-brasileiros e a promover a permanência bem sucedida de estudantes negros(as), sobretudo os(as) de baixa-renda, regularmente matriculados(as) nos cursos de graduação da UFMG. Visa também a entrada destes(as) nos cursos de pós-graduação.”
O Programa se estrutura a partir de duas linhas de ação. A primeira envolve atividades para apoiar os estudantes beneficiários do programa, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto material. A segunda volta-se para o desenvolvimento de sua identidade étnico/racial, a partir de debates, no interior da universidade, acerca da questão racial na sociedade brasileira e do envolvimento dos (as) alunos (as) em atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Em virtude disso, me envolvi em distintas frentes de trabalho que implicaram na oferta de cursos de competência informacional para pesquisa voltada aos jovens que integraram o Programa; coordenação do Documentário “Ações afirmativas: entre o projeto e o gesto”; coordenação do programa de ensino PAD, que durante dois anos investiu na formação de bolsistas acerca da literatura clássica sobre a questão racial no Brasil. Além dessas atividades o Programa Ações Afirmativas produziu inúmeras publicações cientificas dentre as quais publiquei os seguintes trabalhos.
No âmbito das atividades integradas ao Programa Ações Afirmativas na UFMG, atuei no ano 2007, como conselheira da Comissão Técnica Nacional de Diversidade para Assuntos à Educação dos afro-brasileiros – CADARA mantida pela SEPPIR e pelo Ministério da Educação. A Comissão é responsável pela elaboração, acompanhamento, análise e avaliação de políticas educacionais voltadas para os afrodescendentes brasileiros.
O percurso como pesquisadora
O meu percurso como pesquisadora no campo da Ciência da Informação teve início em 1990, quando, num esforço coletivo com a professora Ana Maria Cardoso, e a colega Maria Carmem Castelo Branco Rena, tivemos aprovado o primeiro trabalho de pesquisa em nível de iniciação científica. Tratava-se de uma pesquisa voltada à identificação, sistematização e organização da linguagem adotada na informação produzida no contexto dos movimentos sociais organizados.
Nessa fase, esta atividade representava um desafio importante, haja vista a reabertura política brasileira que acontecia, em certa medida, sob os auspícios das universidades públicas. Tratava-se de uma aproximação conceitual e de linguagem que permitiria, do nosso ponto de vista, um melhor entendimento e comunicação entre os pesquisadores e os atores sociais envolvidos com as mudanças sociais que se descortinavam no período. Essa pesquisa teve a duração de 24 meses e gerou como produto final um tesauro para organização e disseminação da informação dos movimentos sociais brasileiros.
A referida pesquisa foi uma etapa importante por permitir-me a realização de uma reflexão mais específica na fronteira entre a efetividade dos fenômenos sociais e as práticas acadêmicas.
Na ocasião, as minhas ações de pesquisas se faziam na hoje reconhecida fronteira transdisciplinar entre a Ciência da Informação, Comunicação e Educação. Havia na atmosfera acadêmica uma forte tendência a esse tipo de articulação intelectual, absolutamente saudável ao ensino que se professava à época. Ademais, as ações profissionais por mim desenvolvidas no GETEC e, posteriormente, na Rede Minas de Televisão evidenciavam a importância da construção de fontes de informação alternativas como forma de garantir outros falares no contexto científico e social.
[...] O desenvolvimento da pesquisa, em plena expansão das tecnologias colaborativas em rede, o que hoje nomeamos Web 2.0, exigiu um olhar atento, para além da temática intrínseca ao estudo. [...]
[...] Nessa linha de raciocínio, tenho me especializado na discussão metodológica a partir do dispositivo digital, colaborativo e em rede. Assim, os trabalhos e orientações em nível de pós-graduação são conduzidos por essa preocupação e pelos impactos percebidos nos distintos contextos sociais.
[...] Desde a minha admissão no quadro permanente da Escola de Ciência de Informação, tenho estado envolvida com a formação de jovens pesquisadores no âmbito da Ciência da Informação. Nesse sentido, oriento trabalhos de bolsistas de iniciação científica, especialização, mestrado e doutorado, assim como participo de bancas de avaliação de exames de qualificação e apresentação dos trabalhos finais de pós-graduação em Ciência da Informação, Comunicação, Computação, Educação, dentre outras áreas. Atuo, ainda, como orientadora de trabalhos finais de formação em Biblioteconomia, Comunicação e áreas afins.
A possibilidade de trabalhar nesse contexto de articulação da pesquisa e a formação profissional tem sido uma excelente oportunidade de contato com distintos espaços sociais e áreas do conhecimento, bem como a possibilidade de desenvolver uma escuta sensível que nos permite incorporar mais agilmente as agendas emergentes de pesquisa no campo da Ciência da Informação. Nesses termos, a orientação retroalimenta e dinamiza a pesquisa e fomenta a proposição de cursos específicos e vice-versa.
Nos últimos anos, orientei diversos estagiários de final de curso de graduação em Biblioteconomia e Comunicação. Na especialização em Arquitetura da Informação foram três trabalhos de conclusão de curso e, em Gestão Cultural, nove. Na iniciação científica foram cerca de vinte orientandos nas modalidades PIBIC e PROBIC. Nos projetos especiais de Monitoria, PID, PAD, PAE orientei 14 alunos. Dentre os orientandos de iniciação científica, monitoria, PID e PAD e PAE dez alunos ingressaram em programas de pós-graduação e os demais atuam no mercado de trabalho em distintas profissões.
Como orientadora principal, orientei 23 dissertações de mestrado e co-orientei outros 04 trabalhos, sendo um na área de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em parceria como o professor Júlio Pinto, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUC/Minas e no mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da Escola de Arquitetura da UFMG. Orientei ainda um mestrado profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local como colaboradora do Centro Universitário UNA.
Quanto aos discentes de mestrado, nove ingressaram em programas de doutoramento, sendo um na Suécia e outro na França, dez tornaram-se docentes do ensino superior e os demais atuam como profissionais especializados e gestores nas áreas de Ciência da Informação, Comunicação, Gestão cultural, Educação e Computação.
[...] Dentre os temas por mim orientados na pós-graduação, percebe-se o apelo interdisciplinar do campo da CI. Nesse caso, os docentes que, como eu, possuem uma formação interdisciplinar orientam projetos que estabelecem a relação entre temáticas novas e aquelas já estabelecidas no campo da Ciência da Informação. Durante os dez anos em que atuo junto ao PPGCI, orientei temas emergentes na agenda de pesquisa da Ciência da informação, dentre os quais, qualidade de informação em webjornais, organização da informação para interfaces móveis, serviços de atendimento a clientes, práticas informacionais em distintos segmentos sociais e profissionais, competência informacional, redes de colaboração científica, ambientes virtuais de aprendizado, informação e políticas públicas para á área da cultura, informação, corpo e tecnologia, organização da informação em ambientes colaborativos, ambiente para geração e manutenção semiautomática de tesauros, organização da informação de sites turísticos, competência informacional e a formação do pesquisador juvenil, construção social da informação em narrativas orais, tradição pragmática da Ciência da Informação: uma leitura em diálogo com Wittgenstein, tradução intersemiótica estudos da perspectiva da Semiótica de Charles Sanders Peirce, dentre outros. [grifo nosso]
[...] No Núcleo de Estudos das Mediações e Usos Sociais dos Saberes e Informações em Ambientes Digitais (NEMUSAD) temos trabalhado também com a possibilidade de coleta e sistematização coletiva dos dados de pesquisa, formando assim repositórios de dados tratados que contribuam para a consolidação de estudos longitudinais nos eixos temáticos privilegiados pelo Núcleo. Com esse intuito, parte dos profissionais formados sob a minha orientação integra hoje o já citado grupo de pesquisa, NEMUSAD, dando continuidade ao diálogo acadêmico iniciado no processo de orientação nos distintos níveis.
Nessa conjuntura, a formação de pesquisadores sociais orientada por um novo registro formativo estabelece que o processo se realize com base na experimentação, no encorajamento mútuo e na produção coletiva. Isso se deve ao fato de estarmos a analisar fenômenos sociais fugidios sobre os quais ainda há pouco acúmulo reflexivo e autoral. Desse ponto de vista, mestres e aprendizes se situam em patamares muito equilibrados no esforço de descrição, explicação e interpretação ainda provisória dos fenômenos.
[...] A minha formação como pesquisadora, nos últimos anos, foi construída nesse tecido social e em instituições e campos do conhecimento que tomaram para si a tarefa intelectual de refletir e produzir conhecimento na emergência do fenômeno. Desta feita, as minhas escolhas como pesquisadora se realizaram na confluência das transformações em curso e objetivaram compreender de que modo a CI pode ter uma participação autoral nas reflexões sobre os fenômenos contemporâneos.
Propor debates acadêmicos nas fronteiras do campo permitiu o alargamento de sua borda de modo consciente dos limites e perspectivas implicados. Desse modo, minhas escolhas temáticas foram guiadas por uma adesão inarredável ao campo da Ciência da Informação, mas ao mesmo tempo, busquei conhecimentos e parcerias esclarecedoras dos desafios enfrentados. [...]
Observações: Por muito tempo a professora Cida Moura foi a única professora negra da ECI/UFMG. Ela se tornou a primeira professora titular negra da história da Universidade Federal de Minas Gerais, em seus 85 anos de fundação, em 20 de novembro de 2012, dia da Consciência Negra.